Ivaylo Iordanov é alguém que me marcou na minha incursão pelo futebol quer como jornalista, quer ainda como pessoa ligada ao Sporting. É esse registo que quero partilhar nesta altura em que vai haver uma justíssima festa de homenagem embora arrancada pela justiça, a quem, infelizmente, Iordanov teve de recorrer para fazer valer os seus direitos.
YORDA, ALMA LEONINA
Já lá vão muitos anos. Iordanov tinha acabado de fazer 23 anos quando foi apresentado no velhinho Alvalade. Sousa Cintra fez a honras da casa e logo augurou um grande futuro, no Sporting, ao jovem búlgaro. Corria o início da temporada 91/92. O treinador era Marinho Peres, que na época anterior tinha levado os Leões às meias-finais da Taça UEFA, tendo internamente, após um grande início de campeonato, apenas conseguido que o Sporting ficasse na 3ª posição, Iordanov sempre foi um jogador generoso, que veio rotulado como avançado, mas que jogou, também, como defesa-central e médio. De resto, é como central que se distingue no Mundial de 1994, nos EU, ao serviço da Bulgária por quem actuou 50 vezes, disputando ainda o Euro 96 e o Mundial de 98.
Yorda, nome carinhoso por que é tratado pelos amigos, foi considerado jogador búlgaro do ano de 1998. Precisamente numa altura em que já havia sido declarada a doença que o acompanha mas que não o impediu de jogar, ao mais alto nível, até 2001.
Recordo o momento constrangedor em que, em conferência de imprensa, foi anunciado que o jogador sofria de uma doença grave. Fiquei tão perturbado que, como jornalista mas com outro tipo de preocupação que não a frieza pura e dura da função, perguntei ao médico, Fernando Ferreira - ai que saudades -, se Iordanov iria continuar a jogar? Fez-se um silêncio aterrador na sala devido ao histórico da doença! A resposta foi evasiva: "vamos ver o evoluir da situação".
Para alegria de todos, Iordanov continuou a jogar e a marcar, acabando por ser o grande CAPITÃO da conquista do tão ambicionado título, em 2000. Ninguém se esquece do cachecol gigante que Yorda colocou ao pescoço do Marquês de Pombal.
Para trás tinha ficado outro momento histórico, que interrompeu 13 anos de jejum. A conquista da Taça de Portugal em 1995, com a vitória do Sporting por 2-0 sobre o Marítimo. Os 2 tentos foram apontados por Ivaylo Iordanov.
Lidei imensas vezes com Iordanov, e nunca notei nenhum negativismo nas suas palavras e atitudes. Sempre o conheci como um ser muito positivo, dando permanentemente o exemplo nos comportamentos que tinha dentro e fora de campo. Muito me custou vê-lo como que empurrado para o canto, como outros que serviram o Sporting com todo o denodo, como se não houvesse memória no Clube.
Lamento que a festa de homenagem seja o resultado de uma luta judicial, mas os Sportinguistas não esquecem este Homem de grande carácter, que tantas alegrias nos deu e, por isso, vão estar presentes em força para voltar a aplaudir O GRANDE LEÃO, YORDA.
Carlos Severino