Estamos na ponta final de mais uma época e no Sporting, por razões objectivas, prepara-se já a próxima temporada. Ainda falta definir algumas situações importantes, tal como aconteceu no final da temporada 97/98 altura em que se passou a "estória" que vou contar.
OCEANO, CAPITÃO ATÉ AO FIM
A época 97/98 foi uma das mais conturbadas no futebol do Sporting. Estiveram à frente da equipa 4 treinadores: Octávio Machado; Vital, Cantatore e Carlos Manuel. O Sporting acabou, sofridamente, no 4º lugar com Carlão a sair após o final do campeonato.
Em fim de temporada houve, ainda, uma digressão pelos Açores com o GRANDE Vítor Damas no comando técnico da equipa.
Apesar dos péssimos resultados de um ano mau, as manifestações de entusiasmo pela presença do Sporting nos Açores foram assinaláveis. Para além da equipa de futebol, marcou presença o então Presidente, José Roquete.
Estava-se em tempo do diz-se, diz-se que apontava para alterações profundas no plantel. Mesmo não se sabendo quem seria o novo treinador, muito se falava de uma grande sangria. Na lista dos proscritos constavam nomes como Pedro Martins, Paulo Alves, Afonso Martins e... Oceano.
Oceano tinha 35 anos, era o capitão de equipa e reunia a simpatia dos adeptos pela entrega e raça que sempre punha em campo. Os responsáveis da altura falaram com o jogador e propuseram-lhe o final de carreira em troca do lugar de adjunto na nova equipa técnica. Mas Oceano queria continuar a jogar. Foi neste clima que teve lugar a maior manifestação espontânea que vi, fora de campo, em apoio à continuidade de um jogador de futebol.
Tudo se passou na Praça do Município de Angra do Heroísmo, a Capital da Ilha Terceira. Durante visita da comitiva leonina, da qual eu fazia parte, à Câmara Municipal juntaram-se umas largas centenas de pessoas - encheram a Praça - empunhando cartazes e gritando palavras de ordem a pedir a Roquete para Oceano continuar a jogar no Sporting. Foi algo de grande fervor clubista, muito bonito e inesquecível. Houve até pedidos feitos a José Roquete acompanhados por lágrimas sentidas para que Oceano continuasse de leão ao peito.
Como se sabe, Oceano acabou por sair, tendo terminado a carreira de futebolista no Toulouse de França.
Mas a nega de Oceano Cruz em relação ao convite para ser treinador adjunto ter-se-à devido, também, a uma condição com que ele não concordou: ser o porta-voz das más notícias aos colegas de equipa que seriam dispensados. A sua decisão foi de grande Capitão. Pensou mais nos outros do que nele. Como dizia alguém: "já não se fabrica gente assim."
Carlos Severino