quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SOUSA CINTRA - O SPORTING E A "ESCOLA DA VIDA"




No Sporting o tempo é de reflexão para se perceber como contornar um momento tão ou mais difícil do que em 1989. Nessa altura foi gente da 4ª classe que salvou a situação que agora volta a estar de pantanas sob a gerência da aristocracia.





O SALVADOR


Em 1989 os jogadores de futebol estiveram 7 meses sem receber. Em cerca de um ano o Presidente, Jorge Gonçalves, eleito por grande maioria, muito por via das tais "unhas" que iriam devolver ao Leão as vitórias tão ansiadas, não evitou que tudo descambasse. Foi um tempo, curto, de ilusão, tal como o mandato de JEB, com o Sporting a bater no fundo.


Gonçalves não conseguiu dar a volta à situação e foi Abrantes Mendes, então presidente da Assembleia-geral, que convocou eleições antecipadas para parar todo o desalento que pairava na Nação Sportinguista.


Lembro-me, como se fosse hoje, de ver na TV um senhor que dava pelo nome de Sousa Cintra, absolutamente desconhecido do universo leonino, que, com toda a humildade, disse: "se não houver ninguém credível para agarrar no Clube eu avançarei". E assim foi, o empresário que sempre assumiu não ser letrado e apenas ter a escola da vida, lá avançou e assumiu uma situação muito difícil.


A coragem de Sousa Cintra foi grande, mas com a sua habilidade negocial conseguiu resolver imensas situações complicadas, especialmente as dívidas aos atletas. Com as suas naturais limitações, acabou por construir um plantel que na época de 90/91 esteve as primeiras 13 jornadas à frente do campeonato e até dava gosto ver a equipa jogar. O treinador era Marinho Peres e Alvalade registava sempre um número apreciável de espectadores. Ele, Cintra, sabia motivar os adeptos.


Sousa Cintra nunca foi um expert na movimentação dos bastidores e fez disparates como o despedimento de Robson, mas nunca descurou a qualidade dos jogadores que contratava e o Sporting só nada ganhou no seu reinado, na Taça de 95 já era presidente Santana Lopes, por um conjunto de situações que revelaram a sua ingenuidade perante certas jogadas de bastidores.


Quando saiu do Sporting para dar lugar, pacificamente, à equipa de José Roquete, o passivo do Sporting situava-se na casa dos 30 milhões de euros, na altura 6 milhões de contos, mas com um vasto património que hoje na sua totalidade não pertence ao SCP, e em parte já nem está na SAD.


Cintra não foi o melhor presidente do Sporting, mas tomara o futuro líder receber um Sporting como aquele que Cintra deixou.


NOTA FINAL


Não se sabe ainda quem será o futuro Presidente, mas que tem uma tarefa muito difícil pela frente, lá isso tem. O Sporting é hoje um clube que tem na SAD o seu farol que, por seu lado, tem a luz quase a extinguir-se, por via de tanta dependência de baterias que são carregadas por terceiros e que delas vão tentando retirar uma percentagem bem mais elevada da energia que lá é colocada. A solução certa não vai ser agora encontrada. O futebol do Sporting já não é dos sócios. Por isso o modelo SOS, para levantar o futebol do leão, tem de passar por um Abramovich, um Berllusconi ou coisa parecida. Em Inglaterra o modelo pegou e os Manchesteres, Liverpool e Chelsea não perderam grandeza, nem adeptos. Em Portugal o mais próximo que vejo com perfil, se ele quisesse, seria o Joaquim Oliveira. E se mais não fosse, até por toda a envolvência que  tem  tido com o Sporting.


Carlos Severino