quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O MUNICIPAL: Sporting e Benfica Sim, Políticos Não!


O Sporting, em 2001, tinha o seu novo estádio em construção. Surge então a ideia de que os dois velhos rivais podiam partilhar um Estádio Municipal, custeado pela Câmara Lisboeta. No caso, no espaço onde já estava a ser feito o estádio leonino. Os presidentes de Sporting e Benfica, Dias da Cunha e Manuel Vilarinho, apresentaram a ideia a João Soares, edil da capital. Receberam o entusiástico apoio do autarca, mas Soares apresentou alternativa ao local e a exigiu a autorização dos sócios dos dois emblemas.


“Era a possibilidade de aliviar custos aos dois clubes”, diz Dias da Cunha. Já Manuel Vilarinho adianta: “João Soares disse-nos que o melhor era fazer-se um estádio conjunto”.


Soares recorda o momento: “Por causa da rivalidade apresentei alternativa de local, na Ameixoeira, Lumiar, num terreno estatal, onde está o SIS”. O então presidente da Câmara, aponta forte razão para a ideia não ter sido concretizada: “Não houve vontade política do governo para viabilizar a proposta. O protocolo da construção de novos estádios já estava assinado por todos, menos por mim. Fui o único autarca a negar fazê-lo”. O governo era liderado por Guterres. José Lello era o secretário de estado do desporto.


Para Vilarinho “o assunto morreu ali”. Cunha tem versão diferente: “Foram invocadas causas de ordem legal que tornava tudo demorado. O estádio não ficaria pronto a tempo do Euro 2004. Mas havia a alternativa do nosso estádio.”


A proposta dos leões esbarrou na contestação dos adeptos e outros dirigentes do Benfica. Vilarinho queria mas teve de ceder: “ Estou convencido que teve receio dos adeptos do Benfica. Soares, estava para ir a votos, também teve que ser politicamente correcto”, refere Dias da Cunha.



O Benfica apostou então na construção do novo Estádio da Luz. Vilarinho é taxativo: “Soares foi o verdadeiro pai do Estádio da Luz, mas também podia ter sido o coveiro!” E esclarece: “O presidente da Câmara tudo fez para que o nosso estádio fosse viável. Depois perdeu as eleições e veio dizer que apenas nos tinha falado numa bomba de gasolina, faltando à verdade.”


João Soares garante: “Mostrei sempre intenção de ajudar mas nunca prometi nada. Disse que devia ser atribuída uma bomba de gasolina ao Benfica porque ao Sporting já tinham sido viabilizadas três e ao Benfica apenas duas. Quem prometeu tudo, em campanha eleitoral, foi Santana Lopes.”


Santana Lopes diz que “como presidente da Câmara não encontrei um papel sobre o novo Estádio da Luz – João Soares garante que estava lá o projecto – o meu antecessor só me confirmou ter prometido uma bomba de gasolina”. O ex líder de Lisboa evoca, ainda, o que disse aos representantes dos dois clubes quando confrontado com projectos para dois estádios:” A Câmara só tem dinheiro para um estádio. O Sporting quis, o Benfica não.”


O RESTELO FOI HIPÓTESE PARA MUNICIPAL


Ainda antes de se saber que o Euro 2004 seria em Portugal, um estudo da Câmara de Lisboa apontava não para um, mas para dois Estádios Municipais. Quem o diz é João Soares, ao tempo presidente do Município de Lisboa. “Entendemos que Lisboa devia ter apenas dois grandes estádios. Um na zona oriental – podia ser nos terrenos do Oriental – e o outro a ocidente que seria onde está o Restelo. Pela localização é o mais bonito da cidade Na nossa opinião isso resolveria o problema da rivalidade de Sporting e Benfica e dotava a cidade de dois locais com capacidade para receber grandes eventos. A proposta gorou-se porque todos disseram sim menos Vale e Azevedo, então presidente do Benfica.”



PROTAGONISTAS



Santana deu mais ao Benfica


Dias da Cunha revela o que Santana Lopes, então já presidente da Câmara, lhe disse relativamente aos novos estádios: ‘ Aqui entre Sportinguistas, tenho de lhe dizer que fui forçado a dar mais ao Benfica do que ao Sporting. ‘


Santana defendeu o Municipal


“Eu apostava no Municipal. Até me ofereci para ir às assembleias – gerais dos dois clubes defender a tese. O Benfica não quis. Fiz o que pude, como autarca, para ajudar na construção dos dois estádios”, disse Santana Lopes.


Apelei ao Voto no PSD


Manuel Vilarinho que considera João Soares o pai da nova Luz, mas que podia ter sido o coveiro, ficou zangado pelo negar das promessas do ex edil de Lisboa: “ Fiquei tão aborrecido que apelei ao voto dos benfiquistas no PSD”.


Godinho Lopes apoia Dias da Cunha


Godinho Lopes, actual presidente do Sporting, era o vice para o património leonino. Dias da Cunha não esquece: “ -Esteve sempre ao meu lado na questão do Estádio Municipal, embora céptico quanto à hipótese de ser Alvalade.


Soares abre porta à nova Luz


Hipoteca ao Estádio da Luz herdada de Vale e Azevedo, estava a impedir a construção do novo estádio. Ninguém queria dar garantias aos credor – Euroárea – (Vieira, Mário Dias e Vilarinho). “Foi a minha palavra que desbloqueou a situação” conta João Soares.


Carlos Severino

Versão alargada da síntese publicada no Correio da Manhã em 24 de Setembro 2011.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

GOMES: Sobremesa Atrasa e Fim Antecipa-se.

Um dia a casa veio abaixo. Fernando Gomes, bibota de ouro, melhor marcador de sempre no FCPorto, capitão de equipa, mas já em fase descendente de carreira, aborreceu-se e fez estrondo.


Já havia um ambiente crispado, com grupinhos a “conspirar” à boca fechada. Tudo se precipitou, na opinião de Octávio Machado, adjunto de Artur Jorge, quando o então capitão (Fernando Gomes não era titular) João Pinto deu uma entrevista, já na qualidade de novel capitão, no programa Livre e Directo da Antena 1. “Gomes ficou melindrado e no jantar que decorreu na Madeira, na véspera de um jogo com o Marítimo, a turbulência aumentou”.


Foi na sobremesa que a agitação ganhou forma. “ Artur Jorge exigiu que a mesa dele fosse servida primeiro, uma vez que só havia um carrinho de sobremesas. Gomes não gostou e deu conta do desagrado ao médico, Domingos Gomes. O Artur apercebeu-se da confusão e foi o primeiro a fugir da sala”, conta Octávio Machado.


O médico dos portistas, Domingos Gomes, revela que o capitão tinha razão no seu protesto.” Já era muito tarde e o serviço do hotel estava demorado. Perante as insistências de Gomes ainda fui à cozinha tentar que tudo fosse mais rápido, mas a demora exasperou o capitão. Quando chegou à fase da sobremesa os protestos de Gomes foram veementes por não serem os jogadores a ser servidos em primeiro lugar. Só que manda quem pode e obedece quem deve e daí…”.


E pelos vistos, devido aos acalorados protestos, Fernando Gomes acabou por ser obrigado a regressar mais cedo ao continente, por decisão de Pinto da Costa, Artur Jorge e Reinaldo Teles.


Augusto Inácio na altura também estava na casa dos 30. Salienta que o grupo daquele tempo conquistou muita coisa mas não durava sempre. “Houve gente que não percebeu isso”. E dá o seu exemplo: “Acabei aos 34 anos e com proposta para renovar. Mas entendi que tinha chegado a hora de pendurar as chuteiras. Outros assim não o entenderam, e eu respeito, como foi o caso do Gomes”.


Para Octávio Machado, “a insatisfação de Gomes era influenciada por alguns colegas que lhe faziam querer que iam correr com ele do Porto e ele acreditou”. O Palmelão diz que compreende a situação. “ É difícil estar em fim de carreira, ser capitão, ir e depois não ir aos jogos. Gomes precisava de ter tido outras companhias. Teria acabado a carreira no FCPorto.”


Fernando Gomes acabou a carreira de jogador no Sporting, Contactado, escusou-se, amavelmente, a prestar declarações por respeito às normas instituídas no FCPorto.


António Sousa também pertencia ao grupo dos jogadores trintões do FCPorto. Reconhece que o facto de Ivic ter dito a célebre frase ‘Gomes é finito’ “acabou por acelerar a necessidade de renovação do plantel.”
O ex internacional adiantou que “ aos 30 anos nós não eramos velhos e sabíamos que tínhamos mais para dar. Eramos um lote de jogadores carismáticos. Tudo o que conseguimos foi marcante. Mas em todo lado há renovação.”


RTP veta Octávio Machado


O Bibota veio da Madeira mais cedo, mas não foi de modas e na RTP disse de sua justiça, atirando-se a Octávio Machado, acusando-o de desestabilizar o grupo. Octávio quis retaliar mas “fui impedido de entrar nas instalações da televisão”. Da parte do FCPorto foi proposta a ida do Palmelão à RTP Porto, mas os responsáveis da televisão pública não deram provimento à pretensão portista. Octávio havia de falar sobre o tema no programa Livre e Directo da Antena 1. “As perguntas foram todas sobre o Gomes e respondi a tudo”.




PROTAGONISTAS




Nem de muletas queremos partir


Não foi agradável, como é normal, percebermos que a renovação da equipa passava pelo núcleo duro, como era o meu caso e do Gomes. Mas, mesmo de muletas achamos sempre que ainda não é tempo de partir”, afirmou Sousa.


Gomes e Nuno Gomes


“Gomes foi um caso como o do Nuno Gomes. O clube do coração não contava com eles. Ambos quiseram continuar a jogar. No caso do Gomes escolheu acabar no Sporting que é, também, um grande clube”, diz Inácio.


Só Soube do castigo de manhã


“Só soube que Gomes tinha sido mandado para Lisboa no dia seguinte. Depois da sobremesa saí. De manhã soube que tinha havido brava discussão e que Gomes foi mandado para o Continente”, conta Domingos Gomes


Octávio saúda regresso


Em relação ao regresso de Gomes ao FCPorto, Octávio realça: “ estou muito contente por ele estar de novo no FCPorto. É um homem da casa e pelo seu historial merece estar naquele clube. Desejo-lhe as maiores felicidades”


“Gomes é Finito”


A frase “Gomes é Finito” dita por Ivic, no Jamor, em Maio de 88, após a final da Taça em que o FCPorto venceu o Guimarães por 1-0, onde Gomes foi substituído, acabou por marcar a saída prematura do bibota dos dragões.




Carlos Severino


Versão alargada da sintese publicada no Correio da Manhã em 17/9/11.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

VÍTOR BAÍA: Sem título de Riade. Não estava lesionado!

A 3 de Março de 1989 Portugal sagrou-se campeão do Mundo de sub – 20, em Riade. Vítor Baía, que foi titular da baliza portuguesa na fase de apuramento, não viajou para a Arábia Saudita e, por isso, não se sagrou campeão.
E afinal qual foi a razão para a ausência do guardião? A versão oficial apontava para uma lesão, mas a verdade é que o jogador do FCPorto, então um jovem de 20 anos, ficou na Invicta a treinar sob a alçada de Octávio Machado, adjunto da equipa técnica portista.

Amaral, jogou no Sporting e no Benfica, foi campeão do Mundo em Riade e lembra o que foi dito aos jogadores sobre a ausência de Baía: “Foi-nos transmitido que o Vítor estava lesionado”.

Octávio conta, com conhecimento de causa, a razão para Baía não ter ido para a Arábia Saudita: “O Porto estava em dificuldades com guarda – redes. O falecido Zé Beto estava com problemas físicos e sobrava apenas o Mlynarkzic. “O Vítor, apesar de ser um jovem, dava garantias de segurança para as nossas balizas, por isso tratou-se de uma opção. Não era possível dispensar o jogador devido a necessidades próprias”.

Pedro Mouzinho, director executivo da FPF – amigo pessoal de Baía – que se deslocou à Arábia, não tem dúvidas em ir mais longe sobre a não ida do jovem Baía: “ Foi muito simples. Pinto da Costa defende sempre os interesses do FCPorto. Precisava do Vítor e mexeu os cordelinhos para ele ficar nas Antas. O FCP não o deixou ir. A FPF nada pôde fazer.

Pais do Amaral, vice – presidente da FPF que chefiou a delegação, tem outra versão e é taxativo: “ foi-me comunicado pelo FCPorto que Baía tinha estado lesionado e que era arriscado levá-lo a Riade. Coloquei a questão ao nosso departamento médico que não se quis responsabilizar em contrariar a informação portista.”

Já José Catoja, ao tempo enfermeiro/massagista da selecção, diz: “Passou tudo ao lado do departamento médico, que não foi tido nem achado para a situação. Apenas houve uma troca de correspondência que desconheço o conteúdo.”

Domingos Gomes médico do FCPorto, refere ao não ter ideia nenhuma do caso.

E o que pensou Baía da situação? “O jogador aceitou tudo com satisfação e entusiasmo. O Vítor não foi a Riade, mas mesmo sem esse título é só o jogador com mais títulos a nível Mundial”, aponta Octávio Machado.

Quem beneficiou com a ausência de Baía (não respondeu às questões postas) foi Brassard. Apenas com 16 anos, sagrou-se campeão do Mundo.” Foi uma surpresa quando me chamaram. Foi fantástico”. Quanto à ausência de Baía, o antigo guarda – redes recorda: “ O Vítor era o titular da selecção e o grupo reagiu com um misto de tristeza mas, ao mesmo tempo, de confiança no Bizarro e em mim, o que nos deu a responsabilidade para fazermos o melhor. E melhor foi impossível.”

Reunião Secreta no Algarve

Nas vésperas da partida Selecção para a Arábia – como apurámos – houve uma cimeira secreta para resolver o caso Baía, que decorreu no hotel Montechoro, em Albufeira, no Algarve. Carlos Queiroz, o seleccionador (não atendeu contactos efectuados), Nelo Vingada (não respondeu às questões formuladas), e Pais do Amaral, o chefe da delegação para Riade, encontraram-se com Artur Jorge, treinador do FCP e o dirigente portista, Reinaldo Teles. Sabemos que dessa derradeira conversa ficou assente, em definitivo: Vítor Baía não viajaria para Riade!

Não fiz conluio com o FCPorto

Perante a versão que contraria a tese da lesão de Baía,
Pais do Amaral garante: “Não entrei em conluio com o FCPorto. Limitei-me a remeter o assunto para os médicos que não contrariaram as indicações do FCPorto.

Baía, também, ausente no Europeu

No campeonato da Europa que deu o apuramento para o Mundial de Riade, Baía também esteve ausente. Brassard, acabadinho de fazer 16 anos, foi chamado.” Fomos vices, apenas perdemos na final com a URSS, por 4-2.”

Aquele título também foi dele

Amaral, jogador preponderante na equipa de 89, acha que o Mundial também foi de Baía: “Aquela vitória é, também, por direito dele. Fez o percurso daquela geração desde os 15 anos, era um dos nossos.

Trabalha e serás titular do FCPorto

Baía não foi a Riade, mas antes da partida o amigo Pedro Mouzinho, director executivo na FPF, disse-lhe.” Não vais porque tens muita qualidade e podes ser já titular no FCPorto se continuares a trabalhar muito.”

Baía diz o que pensa

“Sou grande admirador do Baía, não só pelo seu percurso como atleta, mas também pela sua postura como homem e pela coragem que tem em dizer o que pensa. Assim conseguiu chegar onde chegou”, disse Octávio Machado.

Carlos Severino

Versão alargada da síntese publicada no Correio da Manhã de 10/9/2011












































quarta-feira, 7 de setembro de 2011

MOURINHO: Contrato com Sporting antes de deixar Benfica

A época de 2000/01 ia quase a meio (Novembro). O Sporting, campeão em título, não estava a fazer uma boa temporada. Os rumores da saída de Inácio, o treinador, já corriam há algum tempo. A pesada derrota por 3-0 no recinto do velho rival, Benfica, foi o pretexto para Duque fazer aquilo que o empresário José Veiga já lhe teria recomendado há muito: a contratação de Mourinho, então treinador dos encarnados.

‘VOVÓ’ ROSÀRIO ENTRA EM ACÇÃO

Apenas três dias depois da derrota do Sporting na Luz, foi marcada uma conferência de imprensa para Alvalade, a meio da tarde. Antes do começo da conferência a Rádio Renascença deu a notícia da mudança de Mourinho para o Sporting. Entretanto, cerca de uma centena de adeptos leoninos invadiram a sala de imprensa do estádio leonino e, sob o ‘comando’ de Rosário, uma indefectível adepta que habitualmente integrava a claque Juveleo, embora já fosse uma jovem avó, desataram a insultar Luís Duque, ao ponto de o calarem totalmente. O então presidente da SAD, ficou visivelmente incomodado e saiu após ter dito apenas que Inácio ia deixar de ser o treinador do Sporting, o que causou mais agitação na sala, com ruidosas reacções contra o despedimento do treinador campeão.

INÁCIO NADA SABIA

“Estava no treino. Fui apanhado de surpresa. Os jornalistas dirigiram-se a mim no final do treino e pediram-me uma reacção ao meu despedimento, Eu não sabia de nada! Uma hora depois fui chamado à SAD. Luís Duque disse-me que a administração tinha entendido proceder à mudança porque as coisas não estavam a correr bem. Fiquei perplexo! O Sporting estava a 5 pontos do Benfica, não vi razão para tal decisão”, conta Inácio.

Duque preparava tudo em segredo

Enquanto Inácio treinava e dirigia a equipa do Sporting, ainda antes do jogo com o Benfica, fonte do Sporting adiantou que Luís Duque fez várias reuniões com Mourinho, com quem fechou um contrato de 1 ano com outro de opção. Nesses encontros foi planeado a renovação do plantel e a entrada de Oceano para a estrutura técnica, como uma referência Sportinguista. A mesma fonte disse ainda que a saída de Duque do Sporting, pouco tempo depois do caso Mourinho, se deveu a pressões internas por causa da situação criada.

DUQUE VOLTA ATRÁS

Como diria Pimenta Machado, “No futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira”, À 1h da madrugada, do dia seguinte, tocou o telefone do treinador despedido. “ Duque ligou-me para dizer que se tinha precipitado e combinou irmos tomar o pequeno – almoço ao hotel Radison (perto do estádio Alvalade). Disse-me que queria que eu continuasse à frente da equipa do Sporting. Fiquei, de novo, perplexo. Com o meu coração Sportinguista disse-lhe que sim, mas pus uma condição: que ele fosse ao treino comunicar a decisão aos jogadores. Quando apareci aos atletas eles ficaram todos espantados, a olhar para mim. Depois de lhes dar a novidade, Schmeichel (guarda - redes) dirigiu-se – me mostrando satisfação pelo meu regresso, mas não deixou de dizer que tinha estado muitos anos em Inglaterra onde era impensável um acontecimento daqueles.

As surpresas não terminaram. O ex técnico do Sporting diz que Duque, ao contrário do prometido, não compareceu no treino. “Telefonou-me a perguntar como ‘estavam as tropas’ e prometeu ligar-me no dia seguinte, pelas 4 da tarde, a hora de nova sessão”. Rebate falso. Não foi do líder da SAD que Inácio recebeu um contacto: “Estava a almoçar em casa da minha mãe e recebi um telefonema da secretária de Luís Duque avisando-me para não me apresentar em Alvalade”.

Contrariando as indicações que recebeu, Augusto Inácio compareceu mesmo Alvalade e travou-se de razões com Duque. “Disse-lhe tudo o que tinha a dizer. Não gostei da saída nem da reentrada. Luís Duque disse-me que a administração da SAD achava que não se devia voltar atrás. Não me convenceu. Acho que foi uma decisão pessoal”, confessa Inácio.

O pagamento a Mourinho

Mourinho não veio para o Sporting. Ficou, involuntariamente, desempregado. Fonte contactada garante que os dirigentes da SAD Sportinguista da altura tiveram de encontrar uma solução para cumprir o compromisso assumido com o técnico, embora nunca a tenham tornado pública.

Nos bastidores sempre se comentou que a operação foi habilmente feita. E como foi? Fonte bem colocada conta os pormenores:”Um pouco antes de Luís Duque sair do Sporting, entrou o chileno Tello, um esquerdino que veio rotulado de craque com um custo 1,5 milhão de contos (7,5 milhões de euros), naquela que foi a contratação mais cara de sempre do Sporting, até à recente chegada de Elias. Acrescentou a mesma fonte: “O valor trazido a público foi fruto do que se chama ‘engenharia’ financeira para que fosse possível pagar a Mourinho”. O actual treinador do Real Madrid, através do seu porta – voz, Eládio Paramés, não confirmou se recebeu ou não. Apenas não se mostrou agradado com o desfecho do caso”.

MOURINHO Sai do Benfica e… do Sporting

José Mourinho tinha assumido o comando técnico do Benfica com Vale e Azevedo como presidente. Só que houve eleições e a vencedora foi a lista liderada por Manuel Vilarinho, que tinha como treinador anunciado, Toni. Perante este cenário, Mourinho ficou fragilizado mas como estava a obter bons resultados e após a estrondosa vitória sobre o Sporting, não foi de meias medidas: com a possibilidade de mudar para Alvalade, dirigiu-se ao presidente do Benfica e disparou, de acordo com Vilarinho: “ Ou me renovam o contrato já por mais um ano, ou nem darei o treino de amanhã”. O ex presidente encarnado respondeu com um adeus a Mourinho. “ O que me fez dizer não foi a ameaça de não dar o treino. Estávamos preocupados em saldar as dívidas deixadas por Azevedo e queríamos que Mourinho se preocupasse com a equipa de futebol”.

Dias da Cunha Dá a Cara Por Duque

Já depois de ter consumado o despedimento definitivo de Inácio e com o “menino nos braços”, Duque que nem tinha avisado Dias a Cunha, o presidente do clube, pediu para ser recebido pelo líder Sportinguista. A conversa durou cerca de meia – hora. O então número um leonino dirigiu-se à sala de imprensa e apaziguou os ânimos, dizendo aos jornalistas e adeptos presentes “ não reconheço nada em Mourinho que o recomende como Sportinguista”.

PROTAGONISTAS

Mozer diz nada ter recebido

Era o adjunto de Mourinho no Benfica e ia acompanhá-lo no Sporting. Como tudo foi por água abaixo, Mozer acabou por ficar desempregado e assume: “Nada recebi, aliás nem cheguei a assinar contrato”.

Manuel Fernandes o recurso de Duque

O antigo capitão do Sporting, substituiu Inácio e confessa que nada sabia do caso Mourinho. “Luís Duque convidou-me. Eu estava no Santa Clara, pedi autorização à direcção do clube e vim a correr para servir o meu Sporting, conta Manuel Fernandes.

Inácio conta história ouvida nos bastidores

“Não sei, não vi, apenas me contaram que no escritório de Veiga, Mourinho terá assinado pelo Sporting perante Luís Duque e o então empresário. Também me garantiram que perante o logro do acordo o Sporting teve assumir o pagamento”, afirmou o técnico.

Duque quis Mourinho, adeptos não

Mourinho esteve duas vezes ligado ao Sporting. Uma como adjunto de Boby Robson, em 92/93, e outra com técnico principal que acabou por não exercer. Duque quis anunciar o então técnico do Benfica recentemente vencedor do Sporting, e não conseguiu.

Vilarinho dividido quanto ao despedimento

“Estou arrependido por um lado, mas por outro limitei-me a um acto de gestão perante uma exigência intolerável. Reconheço que a saída de Mourinho atrasou a recuperação do Benfica por 2 anos”, reconhece Manuel Vilarinho.

Mourinho Não Quis Receber, Diz Fonte Sportinguista.

Fonte do Sporting não desmente que tenha sido montada uma operação para indemnizar Mourinho que, entretanto ficou desempregado. A mesma fonte garante é que Mourinho nada quis receber, devido a não poder cumprir o contrato que tinha rubricado.

Carlos Severino

Versão alargada de sintese que foi publicada no Correio da Manhã em 3 de Setembro de 2011