A 3 de Março de 1989 Portugal sagrou-se campeão do Mundo de sub – 20, em Riade. Vítor Baía, que foi titular da baliza portuguesa na fase de apuramento, não viajou para a Arábia Saudita e, por isso, não se sagrou campeão.
E afinal qual foi a razão para a ausência do guardião? A versão oficial apontava para uma lesão, mas a verdade é que o jogador do FCPorto, então um jovem de 20 anos, ficou na Invicta a treinar sob a alçada de Octávio Machado, adjunto da equipa técnica portista.
Amaral, jogou no Sporting e no Benfica, foi campeão do Mundo em Riade e lembra o que foi dito aos jogadores sobre a ausência de Baía: “Foi-nos transmitido que o Vítor estava lesionado”.
Octávio conta, com conhecimento de causa, a razão para Baía não ter ido para a Arábia Saudita: “O Porto estava em dificuldades com guarda – redes. O falecido Zé Beto estava com problemas físicos e sobrava apenas o Mlynarkzic. “O Vítor, apesar de ser um jovem, dava garantias de segurança para as nossas balizas, por isso tratou-se de uma opção. Não era possível dispensar o jogador devido a necessidades próprias”.
Pedro Mouzinho, director executivo da FPF – amigo pessoal de Baía – que se deslocou à Arábia, não tem dúvidas em ir mais longe sobre a não ida do jovem Baía: “ Foi muito simples. Pinto da Costa defende sempre os interesses do FCPorto. Precisava do Vítor e mexeu os cordelinhos para ele ficar nas Antas. O FCP não o deixou ir. A FPF nada pôde fazer.
Pais do Amaral, vice – presidente da FPF que chefiou a delegação, tem outra versão e é taxativo: “ foi-me comunicado pelo FCPorto que Baía tinha estado lesionado e que era arriscado levá-lo a Riade. Coloquei a questão ao nosso departamento médico que não se quis responsabilizar em contrariar a informação portista.”
Já José Catoja, ao tempo enfermeiro/massagista da selecção, diz: “Passou tudo ao lado do departamento médico, que não foi tido nem achado para a situação. Apenas houve uma troca de correspondência que desconheço o conteúdo.”
Domingos Gomes médico do FCPorto, refere ao não ter ideia nenhuma do caso.
E o que pensou Baía da situação? “O jogador aceitou tudo com satisfação e entusiasmo. O Vítor não foi a Riade, mas mesmo sem esse título é só o jogador com mais títulos a nível Mundial”, aponta Octávio Machado.
Quem beneficiou com a ausência de Baía (não respondeu às questões postas) foi Brassard. Apenas com 16 anos, sagrou-se campeão do Mundo.” Foi uma surpresa quando me chamaram. Foi fantástico”. Quanto à ausência de Baía, o antigo guarda – redes recorda: “ O Vítor era o titular da selecção e o grupo reagiu com um misto de tristeza mas, ao mesmo tempo, de confiança no Bizarro e em mim, o que nos deu a responsabilidade para fazermos o melhor. E melhor foi impossível.”
Reunião Secreta no Algarve
Nas vésperas da partida Selecção para a Arábia – como apurámos – houve uma cimeira secreta para resolver o caso Baía, que decorreu no hotel Montechoro, em Albufeira, no Algarve. Carlos Queiroz, o seleccionador (não atendeu contactos efectuados), Nelo Vingada (não respondeu às questões formuladas), e Pais do Amaral, o chefe da delegação para Riade, encontraram-se com Artur Jorge, treinador do FCP e o dirigente portista, Reinaldo Teles. Sabemos que dessa derradeira conversa ficou assente, em definitivo: Vítor Baía não viajaria para Riade!
Não fiz conluio com o FCPorto
Perante a versão que contraria a tese da lesão de Baía,
Pais do Amaral garante: “Não entrei em conluio com o FCPorto. Limitei-me a remeter o assunto para os médicos que não contrariaram as indicações do FCPorto.
Baía, também, ausente no Europeu
No campeonato da Europa que deu o apuramento para o Mundial de Riade, Baía também esteve ausente. Brassard, acabadinho de fazer 16 anos, foi chamado.” Fomos vices, apenas perdemos na final com a URSS, por 4-2.”
Aquele título também foi dele
Amaral, jogador preponderante na equipa de 89, acha que o Mundial também foi de Baía: “Aquela vitória é, também, por direito dele. Fez o percurso daquela geração desde os 15 anos, era um dos nossos.
Trabalha e serás titular do FCPorto
Baía não foi a Riade, mas antes da partida o amigo Pedro Mouzinho, director executivo na FPF, disse-lhe.” Não vais porque tens muita qualidade e podes ser já titular no FCPorto se continuares a trabalhar muito.”
Baía diz o que pensa
“Sou grande admirador do Baía, não só pelo seu percurso como atleta, mas também pela sua postura como homem e pela coragem que tem em dizer o que pensa. Assim conseguiu chegar onde chegou”, disse Octávio Machado.
Carlos Severino
Versão alargada da síntese publicada no Correio da Manhã de 10/9/2011