O Sporting, em 2001, tinha o seu novo estádio em construção. Surge então a ideia de que os dois velhos rivais podiam partilhar um Estádio Municipal, custeado pela Câmara Lisboeta. No caso, no espaço onde já estava a ser feito o estádio leonino. Os presidentes de Sporting e Benfica, Dias da Cunha e Manuel Vilarinho, apresentaram a ideia a João Soares, edil da capital. Receberam o entusiástico apoio do autarca, mas Soares apresentou alternativa ao local e a exigiu a autorização dos sócios dos dois emblemas.
“Era a possibilidade de aliviar custos aos dois clubes”, diz Dias da Cunha. Já Manuel Vilarinho adianta: “João Soares disse-nos que o melhor era fazer-se um estádio conjunto”.
Soares recorda o momento: “Por causa da rivalidade apresentei alternativa de local, na Ameixoeira, Lumiar, num terreno estatal, onde está o SIS”. O então presidente da Câmara, aponta forte razão para a ideia não ter sido concretizada: “Não houve vontade política do governo para viabilizar a proposta. O protocolo da construção de novos estádios já estava assinado por todos, menos por mim. Fui o único autarca a negar fazê-lo”. O governo era liderado por Guterres. José Lello era o secretário de estado do desporto.
Para Vilarinho “o assunto morreu ali”. Cunha tem versão diferente: “Foram invocadas causas de ordem legal que tornava tudo demorado. O estádio não ficaria pronto a tempo do Euro 2004. Mas havia a alternativa do nosso estádio.”
A proposta dos leões esbarrou na contestação dos adeptos e outros dirigentes do Benfica. Vilarinho queria mas teve de ceder: “ Estou convencido que teve receio dos adeptos do Benfica. Soares, estava para ir a votos, também teve que ser politicamente correcto”, refere Dias da Cunha.
O Benfica apostou então na construção do novo Estádio da Luz. Vilarinho é taxativo: “Soares foi o verdadeiro pai do Estádio da Luz, mas também podia ter sido o coveiro!” E esclarece: “O presidente da Câmara tudo fez para que o nosso estádio fosse viável. Depois perdeu as eleições e veio dizer que apenas nos tinha falado numa bomba de gasolina, faltando à verdade.”
João Soares garante: “Mostrei sempre intenção de ajudar mas nunca prometi nada. Disse que devia ser atribuída uma bomba de gasolina ao Benfica porque ao Sporting já tinham sido viabilizadas três e ao Benfica apenas duas. Quem prometeu tudo, em campanha eleitoral, foi Santana Lopes.”
Santana Lopes diz que “como presidente da Câmara não encontrei um papel sobre o novo Estádio da Luz – João Soares garante que estava lá o projecto – o meu antecessor só me confirmou ter prometido uma bomba de gasolina”. O ex líder de Lisboa evoca, ainda, o que disse aos representantes dos dois clubes quando confrontado com projectos para dois estádios:” A Câmara só tem dinheiro para um estádio. O Sporting quis, o Benfica não.”
O RESTELO FOI HIPÓTESE PARA MUNICIPAL
Ainda antes de se saber que o Euro 2004 seria em Portugal, um estudo da Câmara de Lisboa apontava não para um, mas para dois Estádios Municipais. Quem o diz é João Soares, ao tempo presidente do Município de Lisboa. “Entendemos que Lisboa devia ter apenas dois grandes estádios. Um na zona oriental – podia ser nos terrenos do Oriental – e o outro a ocidente que seria onde está o Restelo. Pela localização é o mais bonito da cidade Na nossa opinião isso resolveria o problema da rivalidade de Sporting e Benfica e dotava a cidade de dois locais com capacidade para receber grandes eventos. A proposta gorou-se porque todos disseram sim menos Vale e Azevedo, então presidente do Benfica.”
PROTAGONISTAS
Santana deu mais ao Benfica
Dias da Cunha revela o que Santana Lopes, então já presidente da Câmara, lhe disse relativamente aos novos estádios: ‘ Aqui entre Sportinguistas, tenho de lhe dizer que fui forçado a dar mais ao Benfica do que ao Sporting. ‘
Santana defendeu o Municipal
“Eu apostava no Municipal. Até me ofereci para ir às assembleias – gerais dos dois clubes defender a tese. O Benfica não quis. Fiz o que pude, como autarca, para ajudar na construção dos dois estádios”, disse Santana Lopes.
Apelei ao Voto no PSD
Manuel Vilarinho que considera João Soares o pai da nova Luz, mas que podia ter sido o coveiro, ficou zangado pelo negar das promessas do ex edil de Lisboa: “ Fiquei tão aborrecido que apelei ao voto dos benfiquistas no PSD”.
Godinho Lopes apoia Dias da Cunha
Godinho Lopes, actual presidente do Sporting, era o vice para o património leonino. Dias da Cunha não esquece: “ -Esteve sempre ao meu lado na questão do Estádio Municipal, embora céptico quanto à hipótese de ser Alvalade.
Soares abre porta à nova Luz
Hipoteca ao Estádio da Luz herdada de Vale e Azevedo, estava a impedir a construção do novo estádio. Ninguém queria dar garantias aos credor – Euroárea – (Vieira, Mário Dias e Vilarinho). “Foi a minha palavra que desbloqueou a situação” conta João Soares.
Carlos Severino
Versão alargada da síntese publicada no Correio da Manhã em 24 de Setembro 2011.