quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ELEIÇÕES FPF - TUDO PELA ARBITRAGEM

Quando tudo parecia encaminhado para um consenso alargado para Fernando Gomes ser o futuro presidente da FPF, eis que surge Carlos Marta na jogada com muitas hipóteses de vencer. Tendo em conta a nova metodologia de eleição -1 delegado 1 voto -  com as Associações Distritais a terem ainda um grande peso,  e com os sinais dados, por exemplo pela AFPorto através do seu presidente, Lourenço Pinto, tudo fica mais claro. Afinal quando Pinto da Costa assumia que o FCPorto não votava em políticos para a FPF, estava apenas  a vetar a possibilidade de Fernando Seara avançar. Por isso socorreu-se, através de  Joaquim Oliveira,  do inimitável Soares Franco para apalpar o terreno. O ex presidente do Sporting, ingenuamente, prestou-se a fazer figura de marioneta que nem sequer o apoio do Sporting tinha.

 Com o previsível aparecimento de Fernado Gomes tudo parecia resolvido, já que era visível haver unanimismo nos apoios recolhidos. Na arbitragem continuaria Vítor Pereira.  Porto, Benfica e Sporting estavam com o actual presidente da Liga. Mas... tam, tam , tam tam... Luís Duque, homem forte do futebol leonino, veio apoiar Carlos Marta, o que levou opresidente do Sporting, Godinho Lopes, vir a terreiro dizer que o Clube mantém o apoio a Fernando Gomes porque "nos leões é a voz do presidente que representa o clube"! Pelos vistos Duque aceitou a reprimenda, pelo menos para já, mas nota-se que há uma estratégia pública/privada.  Na candidatura de Marta, o Conselho de Arbitragem é liderado por Luís Guilherme, actual presidente da APAF.

 E é nas duas listas para o pelouro mais desejado - a arbitragem - que se vai decidir a contenda para o cadeirão da FPF. Percebe-se que Pinto da Costa já não vê Vitor Pereira, o actual presidente da arbitragem, com bons olhos. Duque, pelos vistos, também não. Sobra o Benfica. Aqui chegados, bem se percebe onde está a guerra: Porto vs Benfica, claro está.  Se Marta avançou é porque tem algumas garantias de peso. Tem, por exemplo, Seara na presidência da AG, o que não deixa de baralhar dada a conotação benfiquista do actual edil de Sintra!  Neste braço de ferro Vieira/P. Costa se vai saber quem está com mais preponderância junto dos diversos agentes desportivos que representam a assembleia eleitoral da FPF. O Sporting pode estar em boa posição para desempatar e ganhar relevancia nos centros de decisão do futebol dos quais há muito anda arredado. Dia 10 de Dezembro tudo ficará resolvido, ou talvez não.

Carlos Severino

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PENAFIELGATE: Cheque, Mentiras e Escândalo na Arbitragem

Na tarde de 10 de Novembro de 1990 rebentou a “bomba”, em Penafiel. Nomeado para arbitrar o encontro entre Penafiel e Belenenses, Francisco Silva não entrou em campo. Quem apareceu para arbitrar o jogo foi outro juiz: Fortunato Azevedo, de Braga! Rapidamente se espalhou a notícia de um escândalo que envolvia diversos agentes desportivos. Ressaltava Francisco Silva como o receptor de um alegado cheque de 2000 contos – o ex árbitro garante: “não houve cheque nenhum” –, alegadamente entregue pelo presidente dos donos da casa, Manuel Rocha, para pagamento de ‘favores’. Lourenço Pinto, ao tempo presidente do Conselho de Arbitragem, assumiu-se como o, alegado, ‘descobridor’ da tramóia, aparecendo na cabina dos árbitros a pedir que Xico Silva lhe entregasse a prova do ‘crime (o cheque)!

Primeiro na cabina dos árbitros

Mas afinal o que aconteceu. João Batista repórter presente no jogo, entrou na cabina com a equipa de arbitragem para fazer um pedido logístico. “ Na cabina não vi nada. Nada de nervosismo da parte de Francisco Silva e dos seus companheiros [Arménio Estorninho e António Pincho]. O que eu vi foi o árbitro Fortunato Azevedo chegar ainda antes de Francisco Silva. Vinha num Mercedes que estava cheio de gente, e estacionou a viatura perto das cabinas do estádio. Reparei ainda que o presidente do Penafiel [Manuel Rocha] andava no corredor junto às cabinas, visivelmente agitado

Alegadamente, terá sido Manuel Rocha a avisar Lourenço Pinto de um pedido de Francisco Silva. O presidente dos árbitros avisado montou a operação ‘caça ao cheque’.

“Foi tudo tão rápido que fiquei sem perceber nada. Lourenço Pinto pediu-me um cheque! Não lhe dei nada porque não havia qualquer cheque” disse Francisco Silva.

Francisco Silva foi ao programa, da SIC, Máquina da Verdade. Negou tudo. A máquina desmentiu-o.

A Versão de Fortunato

“Do que se passou na cabina não digo nada. Vai ficar comigo e com Deus, para sempre”, conta Fortunato Azevedo, o árbitro substituto. No entanto adianta: “Já depois do jogo, o Xico estava à minha espera junto à minha casa e eu só lhe disse: ‘Não é que tu mereças pelo mal que fizeste à arbitragem, mas vai descansado que eu não vou dizer a ninguém o que vi’.”

O ex. árbitro internacional, conta ainda que foi apanhado de surpresa. “ Foi o momento mais triste da minha vida. Se soubesse ao que ia não tinha aceitado. Fui procurado, em casa, por Lourenço Pinto e José Passos Rodrigues, presidente do Conselho de Arbitragem da AFBraga, horas antes do jogo. “Disseram-me que tinha havido algo de grave com o Francisco Silva – pensei que tinha tido um acidente – em Penafiel e que eu já não ia fazer o Varzim – Académica no dia seguinte. Tinha de arbitrar o Penafiel – Belenenses. Metemo-nos no carro do senhor Passos, um Mercedes, e lá fomos para Penafiel.”

“Lourenço Pinto e Manuel Rocha foram os autores da trama”, de acordo com declarações de Francisco Silva logo a seguir ao acontecimento. Oficialmente, o antigo árbitro foi irradiado e por isso obrigado a deixar prematuramente “aquilo que mais gostava de fazer.” E queixa-se: “Se tivesse sido Pinto de Sousa (antigo presidente da arbitragem) o assunto era tratado de outra forma. Lourenço Pinto foi ‘levado’ e também se tramou!”

Lourenço Pinto Também Teve de Sair

Estava-se no pleno dos chamados “quinhentinhos”, onde era público e notório um esquema de troca de favores que passava por um bar do Porto, que pertencia a um conhecido dirigente portista, e ainda por um hotel onde muitos árbitros, alegadamente, passavam para um importante ‘beija mão papal’!
Perante o caso Francisco Silva, o então presidente do Conselho de Arbitragem, Lourenço Pinto, acabou, tal como Francisco Silva, por não resistir à situação criada. Foi obrigado a demitir-se do cargo de responsável pela arbitragem, sendo substituído por Fernando Marques, o homem que havia de introduzir o sorteio semanal dos árbitros. Lourenço Pinto – não presta declarações sobre o assunto – manteve sempre uma estreita ligação a Pinto da Costa e é hoje o actual Presidente da Associação de Futebol do Porto.

PROTAGONISTAS

O Isco

Francisco Silva está hoje reformado e confrontado com o passado diz “não quero falar mais disso.” Reconhece, no entanto: “Servi de isco para outros salvarem a face”, acentuando, ” eu era pequenino e contra a força não há argumentos”.

O Cordeiro e o Rebanho



Gaspar Ramos, ao tempo homem forte do futebol do Benfica, não tem dúvidas em classificar o caso Francisco Silva: “Foi o sacrificar de um ‘cordeiro’ para salvar os ‘donos do rebanho’.”


Ninguém o Quis Ouvir

“Apesar de eu ter sido referenciado nos jornais como tendo estado na cabina do árbitro antes do jogo, nunca fui chamado para depor em lado nenhum”, confessa João Batista, repórter presente em Penafiel.

Dei Explicações ao ‘Xico’

Fortunato Azevedo diz não saber ao que ia e por isso afirma: “ Não deixei de dizer ao ‘Xico’ Silva que eu não tive nada a ver com o que se passou na cabina. Apenas estava ali para arbitrar, como me pediram.”

Governo legisla contra corrupção desportiva

Perante o caso Francisco Silva a justiça teve dificuldades porque a legislação contra a corrupção não contemplava a actividade desportiva. Foi tempo de o governo, liderado por Cavaco Silva, o fazer. Guímaro já não se safou.

Futebol, Só Com o Neto

Francisco Silva diz que já deixou de frequentar campos de futebol. Apenas faz uma excepção: “ vou ver o meu neto, José Miguel, que joga nos juniores do Portimonense depois de ter passado pelos juvenis do FCPorto”.

Carlos Severino

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O "SISTEMA": O COMBATE DO SPORTING COM DIAS DA CUNHA

É impossível dissociar o ex presidente do Sporting, Dias da Cunha, do termo ‘sistema’ e da sua luta contra o mesmo no futebol. Foi pela arbitragem que o então líder leonino iniciou o seu combate.

Primeiro muniu-se de conhecimentos suficientes para não ser desmentido nas suas abordagens. O livro de Marinho Neves, Golpe de Estádio, foi a inicial incursão do líder leonino sobre o que era o ‘sistema’. A primeira vez que falou do ‘sistema’, como presidente, com estrondo, foi na época de 2000/01. Após um Beira – Mar Sporting, que os leões venceram por 1-0. Uma arbitragem desastrosa de José Leirós, apesar da vitória leonina, levou DC a dizer aos jornalistas: “temo que o ‘sistema’ esteja de volta.” De que falava afinal? “O ‘sistema’ de que falava e ainda hoje falo, tem o principal enfoque na gestão da arbitragem. A avaliação é completamente desajustada. Os árbitros ou alinham com o status, ou não têm hipótese."

Pinto da Costa e o movimento dos presidentes

Dias da Cunha que identificou Pinto da Costa como um dos rostos do ‘sistema’, teve um período de bom relacionamento com o líder portista.” O FCPorto estava de relações cortadas com o Sporting. Convidei-o, ele aceitou, para almoçar aquando da visita o FCP a Alvalade em 2001. Nesse almoço de direcções Pinto da Costa, no período de intervenções, avançou com a ideia do Movimento dos Presidentes para tratar e resolver os problemas do futebol português.”

O Movimento dos Presidentes reuniu várias vezes com todos os emblemas da Primeira e Segundas Ligas, mas terminou com a retirada do Benfica e do Boavista. “Acabou devido a uma reivindicação do Estrela da Amadora. Estava para descer de divisão mas alegou ser o Benfica que teria de baixar de escalão, por ter os ordenados em atraso”, conta Dias da Cunha.

O relacionamento com Pinto da Costa findou depois de Soares Franco, então vice leonino, declarar à comunicação social, já em 2003, que “o Papa está a morrer e que os ‘papas’ – ‘alegada referência ao presidente do Porto’ – também morrem!” O líder dos dragões retaliou em entrevista ao Público, afirmando: “Esse senhor não pode ser levado a sério depois de almoço.” Dias da Cunha, por dever de solidariedade institucional, rompeu com Pinto da Costa. No entanto, não deixa de dizer: “ Não tenho razões de queixa. Tudo o que combinámos foi sempre cumprido.”

Os Rostos do ‘Sistema’

Numa entrevista à RTP, já em 2004, Dias da Cunha apontou Pinto da Costa e Valentim Loureiro como os rostos do ‘sistema’. “ Foi após insistência da jornalista [Judite de Sousa] quando eu colocava em causa a gestão da arbitragem. Cumplicidades do passado levavam a que os beneficiados fossem determinados clubes. Isto era e é o ‘sistema’. Na altura Pinto da Costa estava acompanhado por Valentim Loureiro. Agora o ‘sistema’ está mais forte. O FCPorto domina.”

O MANIFESTO

Os políticos não quiseram saber

O Manifesto, documento que apontava soluções para os problemas do futebol, foi apresentado a 20 de Janeiro de 2005 e subscrito por Sporting, Benfica, Belenenses e Marítimo. Houve, posteriormente, mais clubes a aderir. “ Criação de um tribunal desportivo; regulação da gestão da arbitragem onde seriam ex árbitros a fazer avaliação, através de uma estrutura própria, supervisionados por um conselho superior composto por juízes do Ministério Público; contas auditadas pela mesma entidade; plano de contabilidade único, marcavam o documento que entregámos aos partidos. Os políticos fizeram vista grossa”, disse Dias da Cunha.

PROTAGONISTAS

O terceiro rosto do "Sistema"


“Os rostos do Sistema não são dois, são três” disse Dias da Cunha no Estádio da Luz, junto de pessoas do futebol. Quem é o terceiro, questionaram? “É o amigo Joaquim Oliveira”, agarrando o próprio, que ficou com cara de poucos amigos.



Nos cornos do toiro


“Dias da Cunha foi sempre quem andou nos ‘cornos do toiro’ no combate ao Sistema. Foi no futebol com quem me dei melhor. Ainda hoje me dou bem com ele” conclusão de Manuel Vilarinho ex presidente do Benfica.

Sportingues – Benficas

Em 2001 Dias da Cunha e Vilarinho juntaram-se ao almoço. O menu apresentou a defesa dos interesses financeiros e outros, dos rivais. Ficou falado que as apresentações aos sócios seriam em jogos entre ambos.

O Frankenstein

“O Sistema é um Frankenstein que já fugiu ao criador” a frase foi dita por Dias da Cunha a Pinto da Costa, num almoço de direcções, em 2001. O presidente portista respondeu com o desafio: Movimento dos Presidentes.”

Os relatórios de Marinho Neves

Durante cinco anos Dias da Cunha recebeu relatórios elaborados por Marinho Neves, que colaborava com o Sporting, onde eram divulgados os movimentos do ‘sistema’. O presidente do Sporting sabia do que falava.

Carlos Severino
Versão alargada da síntese publicada na edição de 1 de Outubro de 2011, no Correio da Manhã.