É impossível dissociar o ex presidente do Sporting, Dias da Cunha, do termo ‘sistema’ e da sua luta contra o mesmo no futebol. Foi pela arbitragem que o então líder leonino iniciou o seu combate.
Primeiro muniu-se de conhecimentos suficientes para não ser desmentido nas suas abordagens. O livro de Marinho Neves, Golpe de Estádio, foi a inicial incursão do líder leonino sobre o que era o ‘sistema’. A primeira vez que falou do ‘sistema’, como presidente, com estrondo, foi na época de 2000/01. Após um Beira – Mar Sporting, que os leões venceram por 1-0. Uma arbitragem desastrosa de José Leirós, apesar da vitória leonina, levou DC a dizer aos jornalistas: “temo que o ‘sistema’ esteja de volta.” De que falava afinal? “O ‘sistema’ de que falava e ainda hoje falo, tem o principal enfoque na gestão da arbitragem. A avaliação é completamente desajustada. Os árbitros ou alinham com o status, ou não têm hipótese."
Pinto da Costa e o movimento dos presidentes
Dias da Cunha que identificou Pinto da Costa como um dos rostos do ‘sistema’, teve um período de bom relacionamento com o líder portista.” O FCPorto estava de relações cortadas com o Sporting. Convidei-o, ele aceitou, para almoçar aquando da visita o FCP a Alvalade em 2001. Nesse almoço de direcções Pinto da Costa, no período de intervenções, avançou com a ideia do Movimento dos Presidentes para tratar e resolver os problemas do futebol português.”
O Movimento dos Presidentes reuniu várias vezes com todos os emblemas da Primeira e Segundas Ligas, mas terminou com a retirada do Benfica e do Boavista. “Acabou devido a uma reivindicação do Estrela da Amadora. Estava para descer de divisão mas alegou ser o Benfica que teria de baixar de escalão, por ter os ordenados em atraso”, conta Dias da Cunha.
O relacionamento com Pinto da Costa findou depois de Soares Franco, então vice leonino, declarar à comunicação social, já em 2003, que “o Papa está a morrer e que os ‘papas’ – ‘alegada referência ao presidente do Porto’ – também morrem!” O líder dos dragões retaliou em entrevista ao Público, afirmando: “Esse senhor não pode ser levado a sério depois de almoço.” Dias da Cunha, por dever de solidariedade institucional, rompeu com Pinto da Costa. No entanto, não deixa de dizer: “ Não tenho razões de queixa. Tudo o que combinámos foi sempre cumprido.”
Os Rostos do ‘Sistema’
Numa entrevista à RTP, já em 2004, Dias da Cunha apontou Pinto da Costa e Valentim Loureiro como os rostos do ‘sistema’. “ Foi após insistência da jornalista [Judite de Sousa] quando eu colocava em causa a gestão da arbitragem. Cumplicidades do passado levavam a que os beneficiados fossem determinados clubes. Isto era e é o ‘sistema’. Na altura Pinto da Costa estava acompanhado por Valentim Loureiro. Agora o ‘sistema’ está mais forte. O FCPorto domina.”
O MANIFESTO
Os políticos não quiseram saber
O Manifesto, documento que apontava soluções para os problemas do futebol, foi apresentado a 20 de Janeiro de 2005 e subscrito por Sporting, Benfica, Belenenses e Marítimo. Houve, posteriormente, mais clubes a aderir. “ Criação de um tribunal desportivo; regulação da gestão da arbitragem onde seriam ex árbitros a fazer avaliação, através de uma estrutura própria, supervisionados por um conselho superior composto por juízes do Ministério Público; contas auditadas pela mesma entidade; plano de contabilidade único, marcavam o documento que entregámos aos partidos. Os políticos fizeram vista grossa”, disse Dias da Cunha.
PROTAGONISTAS
O terceiro rosto do "Sistema"
“Os rostos do Sistema não são dois, são três” disse Dias da Cunha no Estádio da Luz, junto de pessoas do futebol. Quem é o terceiro, questionaram? “É o amigo Joaquim Oliveira”, agarrando o próprio, que ficou com cara de poucos amigos.
Nos cornos do toiro
“Dias da Cunha foi sempre quem andou nos ‘cornos do toiro’ no combate ao Sistema. Foi no futebol com quem me dei melhor. Ainda hoje me dou bem com ele” conclusão de Manuel Vilarinho ex presidente do Benfica.
Sportingues – Benficas
Em 2001 Dias da Cunha e Vilarinho juntaram-se ao almoço. O menu apresentou a defesa dos interesses financeiros e outros, dos rivais. Ficou falado que as apresentações aos sócios seriam em jogos entre ambos.
O Frankenstein
“O Sistema é um Frankenstein que já fugiu ao criador” a frase foi dita por Dias da Cunha a Pinto da Costa, num almoço de direcções, em 2001. O presidente portista respondeu com o desafio: Movimento dos Presidentes.”
Os relatórios de Marinho Neves
Durante cinco anos Dias da Cunha recebeu relatórios elaborados por Marinho Neves, que colaborava com o Sporting, onde eram divulgados os movimentos do ‘sistema’. O presidente do Sporting sabia do que falava.
Carlos Severino
Versão alargada da síntese publicada na edição de 1 de Outubro de 2011, no Correio da Manhã.