sábado, 26 de dezembro de 2009

SALEIRO-UMA "ESTÓRIA" DE NATAL


Carlos Saleiro anda nas bocas do mundo por ser um dos pontas de lança do Sporting e ter marcado o golo da vitória no jogo com a Naval para a Liga, mas a sua fama já vem do tempo em que nem sequer tinha nascido.


Saleiro tem 23 anos e fez toda a formação futebolística no Sporting. Começou por ficar famoso por ter sido o "Primeiro Bebé Proveta" nascido em Portugal. Este facto levou uma jornalista, de uma revista a contactar-me, há uns anos, na qualidade de Director para a Comunicação Social, para pedir uma entrevista ao miúdo que despontava nas camadas jovens do Sporting. Como a minha ligação era mais à equipa principal quis saber a que propósito queria entrevistar um "puto" de 14 ou 15 anos?


"Sabe, eu quero entrevistá-lo por ele ter sido primeiro "Bebé Proveta" a nascer em Portugal." Foi assim que a jornalista manifestou o seu desejo. Confesso que não sabia, mas lá tratei do assunto que passou, também, por conhecer as "estórias" sobre o jovem.


Fiquei a saber que após o nascimento do Carlos – bom gosto no nome - por ter sido um acontecimento e por pertencer a uma família humilde, houve gente que prometeu mundos e fundos, uns para aparecer e poucos com boas intenções. Nesse número restrito, boas intenções, estava Isabel de Trigo Mira que, ainda longe de saber que iria ser dirigente leonina, e que dirigente, ofereceu os primeiros anos de educação escolar no seu colégio, o Luso Britânico, o que, depois de algumas peripécias aconteceu mesmo.

Passados uns anos, Isabel de Trigo Mira já como dirigente do Sporting, também está ligada à vinda de Ronaldo da Madeira, recebe um telefonema da mãe de Saleiro a comunicar-lhe que o filho, com pouco mais de 10 anos, também estava no Sporting. E foi uma alegria para ambas.

O tempo passou e Carlos Saleiro sagrou-se Campeão Europeu de Sub – 17 e Campeão Nacional de Juniores com Paulo Bento como treinador. Depois, foi rodar para outras paragens. Ainda me lembro dos golos que marcou ao Sporting pelo Fátima, numa eliminatória para a Taça de Portugal que os Leões ganharam em cima da hora.

Segue-se o Vitória de Setúbal e Académica onde mostrou, de novo, os seus dotes de goleador.

Esta época Paulo Bento deu-lhe a oportunidade de regressar, mas jogou pouco. Carvalhal apostou nele em dois jogos onde Saleiro fez boas exibições e até marcou o tal golo decisivo na Figueira da Foz.

Agora sem Liedson, lesionado por uns tempos, Carlos Saleiro pode ser uma solução, a solução da "casa" se lhe continuarem a dar oportunidades. Com estampa de atleta, 1, 86m, o primeiro "Bebé Proveta", pode ser o primeiro ponta de lança, em muitos anos, gerado na Academia a vingar.


Pelo menos já marcou mais golos, esta época, que o avançado, Sinama - Pongolle, que o Sporting acaba de contratar ao Atlético de Madrid por 6 milhões.

 

Carlos Severino

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ALTAFINI-A VISÃO SOBRE O MERCADO DE TRANSFERÊNCIAS



Estamos no Natal, época de prendas e de movimentações no Mercado do Futebol. A "estória" de hoje enquadra o ponto de vista que uma grande figura do futebol me transmitiu, há uns anos atrás, e que se mantém tão actual como se pode constatar pelo estado financeiro, lastimável, em que se encontra a maior parte dos clubes.


José Altafini, esse mesmo que marcou os 2 golos com que o Milan derrotou o Benfica que apenas apontou 1, na final dos Campeões Europeus em 1963; que jogou pelo Brasil e por Itália; que marcou 216 golos na série A italiana; que se manteve como jogador até aos 42 anos; que é, actualmente comentador numa TV italiana, esteve no Estádio José Alvalade, há cerca de 10 anos, e com ele tive uma conversa, interessantíssima, sobre o estado do futebol e, particularmente, sobre como ele analisava as movimentações no Mercado.


"Está ali um senhor que diz chamar-se Altafini e gostava de visitar as nossas instalações"! Foi assim que me foi apresentada a situação por um dos funcionários do Sporting. Logo me veio à memória essa figura que nos anos 60 tinha dado uma "alegria" aos sportinguistas, rivalidade é rivalidade, com os golos que marcou ao Benfica, mas achei que devia de haver alguma confusão. Não, não havia confusão nenhuma. À minha frente ali estava José Altafini, ele próprio, caloroso, afável e com uma grande dose de humildade, a solicitar uma visita à "Casa do Leão".


No meu "serviço de guia improvisado" não deixei de lhe mostrar o Museu do Sporting e as fotos do "nosso" Altafini, o de Sernache, vulgo Figueiredo. Altafini ficou muito sensibilizado pois desconhecia que em Portugal tinha havido um jogador que foi apelidado com o seu nome.


A conversa foi seguindo e perguntei-lhe o que estava a fazer? Respondeu-me que tinha virado empresário de jogadores mas, acrescentou, estava muito desiludido com o estado do futebol e por isso achava que não iria continuar por aquele caminho! Perguntei-lhe porquê? O ex internacional italo-brasileiro contou-me uma "estória" passada na Alemanha, presenciada por ele, que o terá deixado bastante céptico, até porque havia aquela imagem do rigor alemão.


Altafini, sem perder tempo, adiantou que a um empresário seu amigo foi pedido um avançado por um presidente de um clube alemão com algum relevo - não me quis dizer qual - para valorizar a equipa.
O dito empresário tratou de encontrar um "craque" e telefonou ao dirigente dizendo-lhe que já tinha o jogador que lhe tinha sido pedido. O tal presidente, sem lhe perguntar mais nada, pediu-lhe para ligar a uma determinada hora afim de lhe dar os pormenores. À hora combinada, o telefone tocou. O empresário lá deu os detalhes da transferência e quando chegou ao preço, já não me lembro o valor mas deixo o exemplo, disse: "são 200 mil". Do outro lado da linha recebeu a resposta: " o quê, 500 mil, você está doido? Fica por 400 mil e não se fala mais nisso. O empresário ficou confuso mas, claro, acedeu. Acontece, porém, que o dito presidente quando atendeu o telefone tinha junto de si os outros dirigentes do clube...


Foi este o exemplo, Altafini garantiu-me ser verídico, que fez uma grande figura do futebol mundial dizer que estava desiludido com o estado do desporto rei.


Passaram 10 anos e o negócio futebol adensa, cada vez mais, a opacidade das relações entre dirigentes e empresários, sabendo-se que os clubes estão de "tanga". Para onde vai o dinheiro?


Carlos Severino

domingo, 20 de dezembro de 2009

APLAUSO E ASSOBIO, SEMANA DE 14/12 a 20/12 DEZEMBRO






APLAUSO



JESUS

Mesmo sem Aimar e Di Maria, Jesus montou um esquema que anulou completamente o FC Porto.

O treinador do Benfica conseguiu superar um dos principais testes para manter acesa a chama para os encarnados poderem chegar ao Título.








DOMINGOS


Os resultados não deixam dúvidas. Domingos Paciência, apesar de nada ter ganho, conseguiu esse feito histórico de colocar o Sporting de Braga como comandante do Campeonato ao fim de 14 jornadas. Domingos começa, como treinador, a ganhar estatuto para a curto prazo poder comandar um dos grandes do nosso futebol.







ASSOBIO




JESUALDO FERREIRA

O treinador do FC Porto não conseguiu contrariar a estratégia de Jesus. É certo que não é o treinador que joga, mas noutras ocasiões Jesualdo Ferreira já conseguiu dar a "volta ao texto" e, por isso, os níveis de exigência são grandes. Apesar de tudo, o FC Porto está a 4 pontos da liderança o que deixa tudo em aberto.




Carlos Severino

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

VEIGA, DE DISCIPULO A PRINCIPAL INIMIGO





Vem aí mais um Benfica-Porto, numa época em que os encarnados sonham com o título que lhes foge desde 2005. Há 4 épocas que é o Dragão a dominar. A última conquista do Benfica foi no ano em que José Veiga era o director para o futebol. A sua influência foi decisiva para o êxito benfiquista. De resto, como foi nas conquistas dos campeonatos ganhos pelo Sporting (2) e pelo Boavista.
Curiosamente, no jogo da época 2004/05 o Benfica até perdeu por 1-0, com Benny Mcharty a gelar a Luz.Veiga, nessa época, só não conseguiu trocar as voltas a Pinto da Costa naquele jogo.

Conheci José Veiga quando em 1995 andava ele por Alvalade a tentar "desviar" Figo dos Leões, num tempo em que o Sporting ameaçava o Porto na liderança do campeonato, muito por influência do antigo nº 7 leonino. Sousa Cintra, então Presidente, nem queria ouvir falar "nesse Vêga"! O caso tornou-se de tal maneira intrincado, que os adeptos leoninos chegaram a querer bater em Figo. Eu fui um dos que se colocou à frente para evitar o pior, conforme retrata a foto de 1ª página da edição de Record daquele tempo. Figo assinou contrato com Inter e Parma, mas acabou por ir parar ao Barcelona, depois de uma "caldeirada" que meteu a UEFA pelo meio. O Sporting não só perdeu o campeonato para o Porto, como recebeu uma quantia ridícula pela transferência de Figo.

Em 99/2000, a trabalhar em pleno com o Sporting, José Veiga trouxe uma série de jogadores como Shemaichel, uns quantos sul-americanos e, também, o italiano Matterazi para treinar a equipa. O investimento foi grande mas os resultados não eram nada satisfatórios. O Presidente José Roquete fez então uma revolução. Despediu o treinador, mudou SAD onde estavam Paulo Abreu e Dias Ferreira, e chamou Luís Duque. Por via de tudo o que aconteceu, Veiga era "persona non grata" em Alvalade.

Após muitas insistências, Veiga conseguiu chegar à fala com Duque. E foi tão convincente com as propostas que fez, não para trazer jogadores mas para "ajudar" na tão almejada conquista do título, que o então Presidente da SAD leonina lhe abriu a porta.

Pelos resultados, a estratégia, toda aplicada na sombra, resultou em cheio. Veiga, qual bom aluno, usou as mesmas armas para combater o seu "professor", que quando deu por ela já era tarde demais. Foi até ao fim para não correr riscos e nem faltou um "incentivo" ao Gil-Vicente para vencer o FC Porto na última jornada, que foi cumprido parcialmente.

O "receptor da mensagem" acabou por satisfazer a pretensão, mas nem foi preciso porque o Sporting ganhou ao Salgueiros. Talvez por isso acabou por ser o único dos Gilistas, que só tiveram o seu "prémio" no ano seguinte após terem recebido e perdido com o Sporting por 2-0, a não ver rigorosamente nada, apesar de ter a fama de até ter bisado no recebimento da compensação. Mas essa é uma "estória" para contar noutra altura com o nome da personagem.

Na época seguinte José Veiga negociou uma "camioneta" de jogadores para o Sporting como J. Pinto; Paulo Bento; Dimas; Bruno Caires entre muitos outros, e depois, por causa dos resultados menos bons dos Leões, virou-se para o Boavista "ajudando", sempre nos bastidores, o Major e seu filho na conquista histórica do campeonato.

No ano seguinte voltou a sua colaboração, de novo, para o Sporting estando na transferência de Jardel para Alvalade e ajudando, de novo na sombra, na conquista de mais um título nacional.

Na temporada de 2002/03 José Veiga vira-se para o Benfica. Começa por retirar força ao Sporting acenando a Jardel com expectativas de uma mudança que deu no que deu. Continuou a trabalhar na Luz e já na época 2004/2005, como Director do Futebol encarnado, consegue levar o Benfica à conquista do título que já lhe fugia há 11 anos, jogando tudo por tudo com os diversos agentes para conseguir o desiderato.

As "estórias" que se contam podem ser realidade ou ficção, mas José Veiga tem o mérito de ter conseguido ser o verdadeiro e único adversário à altura de Pinto da Costa, após ter aprendido como se faz com o Presidente dos Dragões.
Veiga "roubou" 4 títulos ao Porto com 3 clubes diferentes! Mas por onde anda agora? No entanto quem continua na mó de cima, mesmo contra ventos e marés, é Pinto da Costa e, como quase sempre, sem adversário o que acentua, ainda mais, o mérito que tem nos êxitos do FCP.

O Benfica-Porto do próximo domingo vai definir muito do futuro do campeonato.

Se o Benfica pode viver sem Veiga, pode. Mas não é a mesma coisa.

Carlos Severino



domingo, 13 de dezembro de 2009

APLAUSO E ASSOBIO, SEMANA DE 7 a 13/12/2009






APLAUSO







VARELA


De proscrito no Sporting a titularíssimo do FC Porto. Ainda ninguém percebeu bem o que se passou para Varela ter sido pago para sair de Alvalade. As explicações dadas por Paulo Bento e Pedro Barbosa não foram nada convincentes. Certo, certo é que Varela está em grande e, certamente, já entrou nas cogitações de Queiroz para o Mundial da África do Sul.








ASSOBIO




JOSÉ BETTENCOURT

O actual Presidente do Sporting foi eleito numa onda de esperança num futuro a condizer com a dimensão do clube leonino. A tarefa não era fácil, mas Bettencourt teima em complicar. Para além do desastre que tem sido a nível de comunicação, consentiu nos disparates que foram as contratações de Angulo e Caicedo. Agora, em período que exige a sua permanente presença junto da equipa de futebol, foi até aos States e lá viu a derrota com o União de Leiria. Com muito respeito pelos sócios e adeptos "americanos", primeiro é preciso arrumar e cuidar da "casa mãe". José Bettencourt não se pode distrair. No Sporting dificilmente se resiste à falta de resultados desportivos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PINTO DA COSTA, SEMPRE NA DEFESA DO FCP



O FC Porto acaba de vencer, categoricamente, no Vicente Calderon, o Atlético de Madrid de Simão e Quique, e arrecadou mais uns milhares de euros. Há muitos anos que é assim. Tudo fruto de uma estratégia traçada por Pinto da Costa que defende o seu clube, em toda a linha, como se pode constatar na “estória” que passo a contar.


Foi a primeira vez que estive frente a frente com Pinto da Costa. Corria o ano de 1990, mês de Outubro. A Selecção Nacional ia jogar nas Antas, um encontro de apuramento para o Europeu. A Holanda era o adversário. Ganhámos por 1-0, golo de Rui Águas, na altura a jogar no FCP.


Como enviado da TSF para fazer o acompanhamento da Selecção, então treinada por Artur Jorge, certa manhã fui fazer o treino. Antes dos jogadores entrarem em campo, os jornalistas estavam à beira do túnel de acesso às cabinas, em amena cavaqueira. Comentava-se então o aspecto, bom aspecto, que o Estádio das Antas tinha. Havia sido remodelado recentemente e as bancadas estavam todas pintadas de azul.


Do fundo do túnel surgiu Pinto da Costa. Deu um sonoro e agradável bom dia e cumprimentou, um a um, os jornalistas presentes.


Álvaro Faria, jornalista do JN, no seguimento da conversa sobre o estádio, disparou virando-se para o Presidente dos Dragões: “então Presidente, o estádio está todo azul, só falta mesmo a relva para não haver outra cor. Por que é que a relva não é, também, azul?”


A resposta não se fez esperar: “ oh homem, então você não sabe que a relva é para pisar…”. E foi… gargalhada geral.


Confesso que fiquei surpreendido com a rapidez de raciocínio e a resposta na ponta da língua de Pinto da Costa. Nunca tinha estado junto dele. Deu logo para perceber que aquela ironia era corrosiva e demonstrava, claramente, que o dirigente nem num pormenor menos significativo deixava de defender o seu clube. E ainda hoje, passados quase 20 anos, é assim.


Carlos Severino

domingo, 6 de dezembro de 2009

APLAUSO E ASSOBIO, SEMANA 30/11 a 6/12/2009







APLAUSO






JESUALDO FERREIRA


Após alguns resultados menos conseguidos, aí está o FC Porto a demonstrar que o momento de menor fulgor pode estar ultrapassado. A clara vitória em Guimarães. 4 -1, veio mostrar que Jesualdo Ferreira sabe interpretar os sinais melhor que ninguém. O FCP já só está a 3 pontos da liderança na Liga.






ASSOBIO






LIEDSON



É certo que o Sporting não pode passar sem ele. É verdade que Liedson é o melhor avançado a jogar em Portugal, mas isso não lhe dá o direito de colocar em causa, foi o que fez independentemente das desculpas posteriores, o clube que lhe paga ao fazer declarações que apenas servem para adensar os problemas internos do Sporting.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O MILAGRE DE ALKMAAR

Sporting e Benfica estão a caminho da fase final da Liga Europa. A "estória" de hoje conta uma série de episódios vividos aquando do histórico apuramento do Sporting para a final da Taça UEFA, em 2005.


Num momento conturbado, mais um, da vida interna do Sporting, um grupo encabeçado pelo então Vice-Presidente, Miguel Ribeiro Teles, contestava o então Presidente, Dias da Cunha. Por via disso mesmo, o balneário da equipa, treinada por José Peseiro, não vivia os melhores momentos mas, mesmo assim, os resultados e exibições eram deveras animadores.


Na Taça UEFA, o Sporting, mediante grandes exibições e bons resultados, apresentou-se na segunda mão das meias finais da competição com vantagem sobre os holandeses do AZ Alkmaar, após uma vitória por 2-1 em Alvalade.
A diferença era mínima, bastava perder por 1-0 para o Sporting ficar afastado da final que estava marcada, precisamente, para o Estádio Alvalade.


A equipa, e respectiva comitiva da qual eu fazia parte, partiu para a Holanda no dia 23 de Maio. O avião ia cheio e a ansiedade era grande.


Já havíamos sido alertados para as lastimáveis condições do estádio do AZ, mas lá verificou-se que ultrapassava tudo o que podíamos imaginar. Desde as cabinas, nem nos regionais em Portugal, passando pela zona envolvente cheia de contentores, bancadas em ferro e madeira mesmo em cima do relvado, tudo do pior. Quando o Setúbal teve de jogar em Alvalade por exigência da UEFA, percebeu-se que a entidade europeia para o futebol tem dois pesos e duas medidas, dependendo da cor da bandeira.


No dia do jogo aquela espécie de campo de futebol estava lotado de público que, com uns "leques" de papel grosso, fazia um banzé ensurdecedor. A direcção dos leões estava em peso. O jogo começou mal para o Sporting que sofreu um golo logo aos 6 minutos. Já na 2ª parte, Liedson empatou. Depois foi a avalanche dos holandeses a levar o resultado para o empate na eliminatória. Quase a meio do prolongamento, o AZ voltou a marcar passando para a frente no conjunto dos dois jogos.


Vi a partida, na chamada tribuna, até ao intervalo do prolongamento. Não estava a aguentar aquele ambiente. Resolvi ir para o contentor que servia de bar e restaurante acabar de ver o jogo pela TV.
Era eu e cerca de duas dezenas de holandeses, funcionários(as) que olhavam para mim sorrindo e comentando que o AZ seria o finalista. Limitei-me a dizer que o encontro ainda não tinha acabado.


O árbitro olhava já para o relógio e, confesso que estava pronto para sair do restaurante, para não ser gozado pelos empregados do AZ. Mas o futebol tem destas coisas, e mesmo no fim foi Miguel Garcia a dar uma das maiores alegrias de sempre aos sportinguistas.
No restaurante, o silêncio de morte foi quebrado por mim que tirei o sobretudo como se fosse a camisola e rodando-o por cima da cabeça, corri à volta das mesas virando-me para os holandeses(as) gesticulando um grande "toma", com a mão direita, até ficar rouco.


Foi uma noite única. Troquei, com um adepto holandês, a gravata da inauguração do Alvalade XXI por um cachecol alusivo ao jogo. Lembro-me da alegria de toda a comitiva, mas especialmente de Dias da Cunha, o único que parecia confiar em José Peseiro.


Nesta "estória" feliz, não quero deixar de referir algo que na altura estava longe de imaginar que seria a última vez.


O meu amigo Jorge Perestrelo fez o último relato da sua vida. E foi tão exuberante, que levou muitos a pensar que ele era sportinguista. Grande profissional. No final do jogo estive com ele numa conversa bem disposta, referindo-lhe, em jeito de brincadeira, que ele lá teve que fazer a festa do "meu" clube. Rimos e despedi-me com um até amanhã. Foi um até sempre, inesquecível companheiro.


Benfica e Sporting têm agora, na Liga Europa, oportunidade de dar mais umas alegrias aos seus adeptos. Torço para que isso aconteça.



Carlos Severino

domingo, 29 de novembro de 2009

APLAUSO E ASSOBIO, SEMANA DE 23 A 29 NOVEMBRO






APLAUSO







VELOSO E QUIM




O dérbi não teve golos, foi sensaborão. Mas teve  um  lance marcante que só não deu golo porque ao extraordinário remate de Miguel Veloso respondeu Quim com uma defesa do outro mundo. Pela qualidade do lance, o meu aplauso. Por certo que Quim reentrou nas contas de Queiroz.








ASSOBIO









JESUS



O treinador do Benfica ficou satisfeito com o resultado, mas escusava atribuir falta de qualidade ao relvado, ninguém reparou nisso, para justificar uma exibição menos conseguida.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

PROENÇA É DO BENFICA MAS SPORTING GANHOU



A "estória" que se segue aconteceu a anteceder o Benfica-Sporting, realizado no Estádio da Luz, em 4/1/04, ganho pelos leões por 3-1.


Antes da narração do sucedido, quero dizer que, tal como eu me assumo do Sporting, o que não me impede de como jornalista ser profissional, o mesmo acontecerá com os árbitros que podem ser de um dos clubes que intervêm num qualquer jogo por eles dirigido sem que isso influencie o seu desempenho.


Na véspera de mais um clássico, na circunstância Benfica-Sporting realizado em Janeiro de 2004, a nomeação do árbitro foi, como sempre, alvo de polémica. O escolhido pela Comissão de Arbitragem, tal como agora, foi o lisboeta Pedro Proença.


Após o anúncio da nomeação, chegou-me aos ouvidos, na minha condição de director do Sporting para a comunicação social, que Proença era sócio do Benfica, e de camarote. A informação vinha de fonte segura, e por isso não tive qualquer problema em partilhá-la com o director executivo da SAD que, na altura, era José Bettencourt, actual presidente leonino.


Dada a situação, sugeri que aquilo que era um facto fosse posto a circular. Autorização dada e assim aconteceu. Dois dias antes do encontro, a notícia apareceu publicada em alguns jornais e foi um grande "chiribiri". Pedro Proença não confirmou nem desmentiu. Apesar da confusão causada por uma verdade insofismável, com o natural incómodo para algumas personagens, manteve-se a nomeação.


No dia do jogo Proença lá estava de apito na boca, pronto para fazer o seu trabalho. E para que ninguém tivesse dúvidas, aos 8 minutos de jogo, apontou uma grande penalidade, a favor do Sporting, num lance muito duvidoso, que deu no primeiro golo dos leões, apontado por Rochemback.


O Sporting acabou por vencer por 3-1. Silva e Sá Pinto,  também, de penálti, mas este sem sombra de pecado, apontaram o segundo e terceiro golos. Luisão marcou o tento de honra do Benfica.


Após o encontro, as críticas por banda do Benfica e da comunicação social, ao árbitro da partida, foram arrasadoras. Diziam, na maioria, que Proença quis ser tão isento que "borrou a pintura toda". Os benfiquistas afirmavam que não precisavam de consócios assim.


Como se vê, é difícil agradar a todos e quando se trata de um derby lisboeta é mesmo o "fim da picada".


Faço esta revelação ciente de que, na função que tinha no Sporting naquele tempo, era minha obrigação defender os interesses do meu clube.


Aproveito para desejar uma boa prestação a todos os intervenientes no jogo deste sábado. Proença tem categoria para fazer um excelente trabalho.


Carlos Severino

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SPORTING – BENFICA, A “Vingança” de Toni e Veloso




Como repórter fiz muitos Sporting - Benfica, mas, apesar da minha costela leonina, nunca misturei trabalho com a preferência clubista, o que não quer dizer que o meu lado emocional não reflectisse, interiormente, alegria ou tristeza pelos resultados do clássico.



Em véspera de mais um derby, cá vai mais uma “estória” inédita, desta vez envolvendo, para além de mim, Toni, então treinador do Benfica, e Veloso, o capitão da equipa encarnada.



Na época 93/94 o Sporting, treinado por Carlos Queiroz, estava à beira de conquistar o campeonato que lhe fugia desde 1982. Precisava de ganhar ao Benfica para atingir o objectivo.



Como jornalista/repórter da TSF, fui marcado para acompanhar o Benfica a tempo inteiro. Treinos, conferências de imprensa, estágio e jogo, tudo fazendo parte do menu para que os ouvintes nada perdessem.



Na véspera do jogo e depois do treino que foi no Coimbra da Mota, no Estoril, dirigi-me ao local de estágio para saber mais alguma coisa que fosse valor acrescentado às informações que tinham sido dadas. Após o jantar da equipa, alguns elementos ficaram pelo salão de convívio, entre eles Toni e Veloso.



No Benfica todos sabiam do meu sportinguismo mas, também, sabiam bem do meu profissionalismo e por isso ninguém se mostrava incomodado pela minha presença. De resto, Toni e Veloso para além de outros como Jesualdo Ferreira, Rui Costa, João Vieira Pinto, como pessoas do futebol que percebiam o papel de cada um, tinham um excelente relacionamento comigo.



As boas relações entre mim Toni e Veloso, permitiram-me dizer-lhes, em off, que como amigo deles nem sabia que perguntas lhes faria no final do jogo uma vez que o Benfica acabara de ser eliminado em Parma, para a Taça das Taças, e já havia sido afastado da Taça de Portugal. Isto no meu pressuposto de que o Sporting iria vencer. Veloso riu-se e disse-me: “vê lá se o tiro sai pela culatra”. Toni, com aquele sorriso maroto, olhou para mim e disparou: “Oh Severino, cheira-me que vais apanhar um desgosto amanhã”! Risos! Limitei-me a dizer que continuava "preocupado" com a maneira como os iria abordar no final da contenda.


No dia do jogo, chovia que Deus a dava, o velhinho estádio de Alvalade completamente lotado, um ambiente fantástico e eu lá estava para acompanhar todas as incidências do jogo relativas ao Benfica. E tudo começou bem para o Sporting que abriu o marcador. Mas o Benfica, rapidamente, empatou. Os Leões voltaram a marcar. De novo os encarnados empataram e logo passaram para a frente. A poucos minutos do fim o resultado chegou aos 6 a 2. Ficou em 6 a 3, com Balakov a marcar de penálti. Foi a noite de João Pinto e o Benfica ficou com o caminho aberto para chegar ao título.



Antes do final do encontro, completamente ensopado, entrevistei João Pinto, que tinha sido substituído para a consagração, junto à escadaria que dava acesso ao túnel das cabinas, e ainda me lembro que do seu rosto transparecia um completo e justificado deslumbramento.



Com o apito final fui em direcção a Toni que, também ele todo encharcado, de peito inchado, me deu conta da sua natural satisfação, não deixando de aludir aos que não acreditavam na equipa, olhando para mim com natural gozo. Quanto a Veloso, veio na minha direcção e perguntou-me: “ então, não me perguntas nada?”. Confesso que foi a única pessoa que me fez rir naquela noite. Abracei-me a ele, a rádio tem estas vantagens, e fiz-lhe a justificada entrevista.



Naquele jogo, Toni foi tão corajoso que até deixou Rui Costa no banco.



Com a obrigação de jornalista fiz toda a festa do Benfica, desde Alvalade até à Luz.



Quando cheguei a casa, a minha mulher, que é benfiquista, tinha um banho quente preparado que me soube pela morte. Tive 3 dias sem sair de casa. Quando me apresentei ao serviço, o meu director, David Borges, um senhor do jornalismo, mas benfiquista, apenas me perguntou se eu já estava recuperado.



Toni e Veloso, muito experientes, sabiam que no futebol a lógica é uma batata. Hoje, passados estes anos todos, continuamos amigos, mas aquela noite jamais será esquecida por mim, por eles e pela HISTÓRIA do Futebol Português.









Carlos Severino

domingo, 22 de novembro de 2009

APLAUSO E ASSOBIO, SEMANA 16 a 22/11/2009

Começa hoje a eleição semanal das figuras do futebol português que, na minha opinião, merecem aplauso ou assobio por aquilo que disseram ou fizeram.






APLAUSO



CARLOS QUEIROZ


Aplauso para Queiroz por ter mantido a SELECÇÃO de PORTUGAL no patamar cimeiro do futebol mundial. O seleccionador português acreditou sempre que era possível. Mesmo sem Ronaldo conseguiu o passaporte para a África do Sul. Parabéns Prof.









ASSOBIO



OLEGÁRIO BENQUERENÇA


Ouvi e nem queria acreditar. Dizer, num Congresso de Arbitragem ,que não se importa de ser árbitro profissional desde que lhe paguem bem para suportar que lhe chamem "CHULO" e "PALHAÇO"?
Não há memória!





Carlos Severino

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

RICARDO CARVALHO - PINTO DA COSTA ACERTOU EM CHEIO



A selecção está no Mundial da África do Sul após uma saborosa vitória na Bósnia. O jogo terminou com Ricardo Carvalho como capitão de equipa, no dia em que completou 60 internacionalizações. Como o tempo passa.

A "estória" de hoje tem, precisamente, a ver com um momento vivido no verão de 1997, com três intervenientes: Ricardo Carvalho, Pinto da Costa e eu.

A notícia da saída, não confirmada pelo FCPorto, para o Tenerife, de Domingos Paciência, levou-me ao Porto para tentar confirmar a veracidade da informação que tinha obtido junto de uma fonte credível. Mas como nunca gostei de dar notícias para serem desmentidas, lá fui até ao velhinho Estádio das Antas para, in-loco, confirmar a veracidade do que me haviam dito. 

Chegado à "casa" do FCP, pedi para falar com o presidente, Pinto da Costa, para que não houvesse equívocos.  Enquanto esperava pela resposta ao meu pedido, fui andando por ali e, de repente, dou com os olhos no líder portista. Logo a ele me dirigi e, depois dos cumprimentos da praxe, fui directo ao assunto perguntando se a saída do Domingos era uma realidade? Pinto da Costa, a sorrir, disse-me que lhe parecia que o avançado já tinha limpo o cacifo. Pedi-lhe que me confirmasse para o gravador e, enquanto o tentava convencer a gravar, aproximou-se de nós um jovem de cabelo comprido, que eu não conhecia.  PC virou-se para mim e disse-me: "sabe, o que interessa é o futuro e quero apresentar-lhe um novo Fernando Couto". Com efeito, com aquele cabelo o jovem parecia-se com Couto. Seguindo com a conversa, e dando uma palmadinha amigável no ombro do "rapaz", acrescentou: "aqui, o nosso Ricardo Carvalho, vai agora rodar para o Leça, para ganhar experiência, e olhe que este não engana". 

Passado este tempo todo, dá para perceber que Ricardo Carvalho, apesar de ter, entretanto, mudado de visual, não enganou mesmo. Antes de regressar ao FCP, esteve uma temporada no Vitória de Setúbal e outra no Alverca. Depois ganhou tudo o que havia para ganhar no Porto de José Mourinho, e em 2004/05 ingressou no Chelsea onde continua a ser um dos esteios da equipa inglesa.

Com o apuramento para a fase final do Mundial, Ricardo Carvalho atinge, assim, o patamar que Pinto da Costa lhe augurou em 1997. Quem sabe, sabe.

Aqui quero deixar os parabéns a todo o grupo de trabalho que levou a selecção a escrever, na Bósnia,  mais uma página brilhante da sua história e com Ricardo Carvalho, o personagem desta "estória", como CAPITÃO.

Carlos Severino

domingo, 15 de novembro de 2009

A PREMONIÇÃO DE QUEIROZ



Como estamos em tempo de Selecção A e perto da decisão final do apuramento para mais um Mundial, veio-me à memória um jogo em que o então, tal como agora, seleccionador nacional era Carlos Queiroz.


Corria o  ano de 1993, dia 27 de Abril, véspera do Portugal-Escócia jogo a contar para a fase de apuramento do Mundial dos Estados Unidos. A selecção estagiava num hotel da zona do Estoril/Cascais e lá estava eu para acompanhar os trabalhos da selecção, 24 horas por dia. O relacionamento com o staff da FPF era muito bom, sendo que cada um sabia respeitar o espaço e a função de cada um. Reparei que Carlos Queiroz andava bastante entusiasmado com o trabalho que estava a desenvolver. Nessa altura despontavam já Figo, Peixe, Rui Costa, João Vieira Pinto, Paulo Sousa, Fernando Couto, Baía, Jorge Costa, Folha, Hélder e Domingos que se juntavam a Futre, Rui Barros, Cadete, Oceano, Paneira, André, Semedo, Rui Águas, Veloso, João Pinto, Leal, Fernando Mendes, Nogueira e Neno que constituiram o grupo que participou na campanha.


Após o jantar, os jogadores subiram para os quartos e eu, a trabalhar para a TSF, juntamente com o meu amigo Carlos Boto, da Comercial, agora está no Rádio Clube, ficámos por ali para tentar saber quem ia jogar no outro dia, no mítico, antigo, Estádio da Luz.


Por volta das 22h metemo-nos com Queiroz para saber as últimas. O seleccionador sorriu e convidou-nos a entrar numa pequena sala onde havia um quadro e sem demora disse: "amanhã vamos ganhar por 5-0"! Claro que quisemos saber como iria isso acontecer perante uma selecção cliente habitual das fases finais dos mundiais. Carlos Queiroz não nos fez esperar. Vai ser assim, dizia ele apontando para o quadro: " vamos jogar pelos flancos e após os cruzamentos lá estarão o Rui Barros,  Futre, Cadete e sempre mais dois ou três prontos para  atirar à baliza. Isto vai resultar e vamos começar a marcar cedo".


Ok, não ficámos convencidos mas não deixámos de comentar que Queiroz estava mesmo convicto de que seria assim como estava a transmitir.


No dia seguinte, 28 de Abril de 1993, às 21h, lá estava eu, no Estádio da Luz, para fazer a cobertura do Portugal-Escócia, com arbitragem do internacional hungaro, Sandor Pul. O jogo começou com Portugal , efectivamente, a jogar pelos flancos e... GOLO! E foi assim até aos 5-0. Rui Barros marcou 2, Cadete mais 2 e Futre 1.


Grande jogo, grande exibição e a previsão de Carlos Queiroz deu tão certa que, em jeito de brincadeira, no fim, lhe chamei "bruxo".


Não sei se o Prof., era assim que lhe chamavamos, desta vez tem alguma premonição para o jogo com a Bósnia, mas eu gostava que tivesse. E não são precisos 5. Resta-me desejar boa sorte.

Já está. A primeira de muitas "estórias" aqui fica a marcar o meu regresso ao exercício do jornalismo.


Carlos Severino