quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ALTAFINI-A VISÃO SOBRE O MERCADO DE TRANSFERÊNCIAS



Estamos no Natal, época de prendas e de movimentações no Mercado do Futebol. A "estória" de hoje enquadra o ponto de vista que uma grande figura do futebol me transmitiu, há uns anos atrás, e que se mantém tão actual como se pode constatar pelo estado financeiro, lastimável, em que se encontra a maior parte dos clubes.


José Altafini, esse mesmo que marcou os 2 golos com que o Milan derrotou o Benfica que apenas apontou 1, na final dos Campeões Europeus em 1963; que jogou pelo Brasil e por Itália; que marcou 216 golos na série A italiana; que se manteve como jogador até aos 42 anos; que é, actualmente comentador numa TV italiana, esteve no Estádio José Alvalade, há cerca de 10 anos, e com ele tive uma conversa, interessantíssima, sobre o estado do futebol e, particularmente, sobre como ele analisava as movimentações no Mercado.


"Está ali um senhor que diz chamar-se Altafini e gostava de visitar as nossas instalações"! Foi assim que me foi apresentada a situação por um dos funcionários do Sporting. Logo me veio à memória essa figura que nos anos 60 tinha dado uma "alegria" aos sportinguistas, rivalidade é rivalidade, com os golos que marcou ao Benfica, mas achei que devia de haver alguma confusão. Não, não havia confusão nenhuma. À minha frente ali estava José Altafini, ele próprio, caloroso, afável e com uma grande dose de humildade, a solicitar uma visita à "Casa do Leão".


No meu "serviço de guia improvisado" não deixei de lhe mostrar o Museu do Sporting e as fotos do "nosso" Altafini, o de Sernache, vulgo Figueiredo. Altafini ficou muito sensibilizado pois desconhecia que em Portugal tinha havido um jogador que foi apelidado com o seu nome.


A conversa foi seguindo e perguntei-lhe o que estava a fazer? Respondeu-me que tinha virado empresário de jogadores mas, acrescentou, estava muito desiludido com o estado do futebol e por isso achava que não iria continuar por aquele caminho! Perguntei-lhe porquê? O ex internacional italo-brasileiro contou-me uma "estória" passada na Alemanha, presenciada por ele, que o terá deixado bastante céptico, até porque havia aquela imagem do rigor alemão.


Altafini, sem perder tempo, adiantou que a um empresário seu amigo foi pedido um avançado por um presidente de um clube alemão com algum relevo - não me quis dizer qual - para valorizar a equipa.
O dito empresário tratou de encontrar um "craque" e telefonou ao dirigente dizendo-lhe que já tinha o jogador que lhe tinha sido pedido. O tal presidente, sem lhe perguntar mais nada, pediu-lhe para ligar a uma determinada hora afim de lhe dar os pormenores. À hora combinada, o telefone tocou. O empresário lá deu os detalhes da transferência e quando chegou ao preço, já não me lembro o valor mas deixo o exemplo, disse: "são 200 mil". Do outro lado da linha recebeu a resposta: " o quê, 500 mil, você está doido? Fica por 400 mil e não se fala mais nisso. O empresário ficou confuso mas, claro, acedeu. Acontece, porém, que o dito presidente quando atendeu o telefone tinha junto de si os outros dirigentes do clube...


Foi este o exemplo, Altafini garantiu-me ser verídico, que fez uma grande figura do futebol mundial dizer que estava desiludido com o estado do desporto rei.


Passaram 10 anos e o negócio futebol adensa, cada vez mais, a opacidade das relações entre dirigentes e empresários, sabendo-se que os clubes estão de "tanga". Para onde vai o dinheiro?


Carlos Severino