terça-feira, 24 de novembro de 2009

SPORTING – BENFICA, A “Vingança” de Toni e Veloso




Como repórter fiz muitos Sporting - Benfica, mas, apesar da minha costela leonina, nunca misturei trabalho com a preferência clubista, o que não quer dizer que o meu lado emocional não reflectisse, interiormente, alegria ou tristeza pelos resultados do clássico.



Em véspera de mais um derby, cá vai mais uma “estória” inédita, desta vez envolvendo, para além de mim, Toni, então treinador do Benfica, e Veloso, o capitão da equipa encarnada.



Na época 93/94 o Sporting, treinado por Carlos Queiroz, estava à beira de conquistar o campeonato que lhe fugia desde 1982. Precisava de ganhar ao Benfica para atingir o objectivo.



Como jornalista/repórter da TSF, fui marcado para acompanhar o Benfica a tempo inteiro. Treinos, conferências de imprensa, estágio e jogo, tudo fazendo parte do menu para que os ouvintes nada perdessem.



Na véspera do jogo e depois do treino que foi no Coimbra da Mota, no Estoril, dirigi-me ao local de estágio para saber mais alguma coisa que fosse valor acrescentado às informações que tinham sido dadas. Após o jantar da equipa, alguns elementos ficaram pelo salão de convívio, entre eles Toni e Veloso.



No Benfica todos sabiam do meu sportinguismo mas, também, sabiam bem do meu profissionalismo e por isso ninguém se mostrava incomodado pela minha presença. De resto, Toni e Veloso para além de outros como Jesualdo Ferreira, Rui Costa, João Vieira Pinto, como pessoas do futebol que percebiam o papel de cada um, tinham um excelente relacionamento comigo.



As boas relações entre mim Toni e Veloso, permitiram-me dizer-lhes, em off, que como amigo deles nem sabia que perguntas lhes faria no final do jogo uma vez que o Benfica acabara de ser eliminado em Parma, para a Taça das Taças, e já havia sido afastado da Taça de Portugal. Isto no meu pressuposto de que o Sporting iria vencer. Veloso riu-se e disse-me: “vê lá se o tiro sai pela culatra”. Toni, com aquele sorriso maroto, olhou para mim e disparou: “Oh Severino, cheira-me que vais apanhar um desgosto amanhã”! Risos! Limitei-me a dizer que continuava "preocupado" com a maneira como os iria abordar no final da contenda.


No dia do jogo, chovia que Deus a dava, o velhinho estádio de Alvalade completamente lotado, um ambiente fantástico e eu lá estava para acompanhar todas as incidências do jogo relativas ao Benfica. E tudo começou bem para o Sporting que abriu o marcador. Mas o Benfica, rapidamente, empatou. Os Leões voltaram a marcar. De novo os encarnados empataram e logo passaram para a frente. A poucos minutos do fim o resultado chegou aos 6 a 2. Ficou em 6 a 3, com Balakov a marcar de penálti. Foi a noite de João Pinto e o Benfica ficou com o caminho aberto para chegar ao título.



Antes do final do encontro, completamente ensopado, entrevistei João Pinto, que tinha sido substituído para a consagração, junto à escadaria que dava acesso ao túnel das cabinas, e ainda me lembro que do seu rosto transparecia um completo e justificado deslumbramento.



Com o apito final fui em direcção a Toni que, também ele todo encharcado, de peito inchado, me deu conta da sua natural satisfação, não deixando de aludir aos que não acreditavam na equipa, olhando para mim com natural gozo. Quanto a Veloso, veio na minha direcção e perguntou-me: “ então, não me perguntas nada?”. Confesso que foi a única pessoa que me fez rir naquela noite. Abracei-me a ele, a rádio tem estas vantagens, e fiz-lhe a justificada entrevista.



Naquele jogo, Toni foi tão corajoso que até deixou Rui Costa no banco.



Com a obrigação de jornalista fiz toda a festa do Benfica, desde Alvalade até à Luz.



Quando cheguei a casa, a minha mulher, que é benfiquista, tinha um banho quente preparado que me soube pela morte. Tive 3 dias sem sair de casa. Quando me apresentei ao serviço, o meu director, David Borges, um senhor do jornalismo, mas benfiquista, apenas me perguntou se eu já estava recuperado.



Toni e Veloso, muito experientes, sabiam que no futebol a lógica é uma batata. Hoje, passados estes anos todos, continuamos amigos, mas aquela noite jamais será esquecida por mim, por eles e pela HISTÓRIA do Futebol Português.









Carlos Severino