terça-feira, 4 de maio de 2010

O JOGO DO TÍTULO

Uma das últimas vezes que o Título se decidiu no último jogo do campeonato foi em 14 de Maio de 2000. O Sporting havia perdido com o Benfica, em Alvalade, por 0-1, golo de Sabry, de livre, gelando um Estádio a abarrotar, com tudo preparado para uma grande festa que afinal chegou só uma semana depois, em Vidal Pinheiro onde começaram os festejos que duraram dias e dias. Agora que os benfiquistas estão à beira da tão desejada conquista, mas precisando pelo menos de empatar, é altura para contar a "estória" daquela já longínqua vitória no derradeiro jogo, que eu vivi intensamente por dentro.



O TÍTULO 18 ANOS DEPOIS



Foi uma tarde inesquecível. Eu estava no Sporting há apenas 2 anos e já tinha vivido mais convulsões do que em grande parte da minha vida. Primeiro porque cada vez que o Sporting fazia um resultado menos positivo todos, internamente, se olhavam para encontrar um culpado. Segundo porque as derrotas contribuíam para um desespero dos adeptos que durava há quase duas décadas, muitas vezes assinalado com esperas e vaias constantes aos dirigentes, jogadores e treinador. Mas a hora do sucesso estava quase a chegar, cheia de sofrimento até ao fim.



A época tinha começado em grande alvoroço. O Sporting 99/2000 tinha Schmeichel, tinha Acosta, Dusher, Quiroga e outros craques em quem eram depositadas fartas esperanças. O treinador era o italiano Giusepe Materazzi, uma grande surpresa pois tratava-se de um técnico quase desconhecido. Materazzi chegou envolto em grande mistério. Falava-se em Névio Scala. Na altura era Veiga o empresário que dominava em Alvalade e só em cima da chegada de Materazzi ao estádio se ficou a saber quem sucedia a Jozic.



Conheci bem Materazzi. Desde o estágio de pré-época, nas Caldas da Raínha, até à sua saída 3 meses depois, tive oportunidade de lidar com um homem de elevada estatura moral, que defendia o grupo, trabalhava muito mas que não foi bem sucedido nos resultados. No entanto, a equipa beneficiou da qualidade da preparação de início de época como se pôde provar mais  tarde.



Com toda a gente a pedir a cabeça de Materazzi e dos dirigentes da SAD, onde pontificava Paulo Abreu, o Presidente Roquete fez a revolução. Varridela completa. Eleições, nova SAD e novo mister. Foi a vez de Inácio e de Luís Duque à frente da Sociedade do futebol leonino.




Os bons resultados começaram a aparecer e no virar do século a equipa foi reforçada com 3 "peças" fundamentais: André Cruz, César Prates e Mbo M´penza. O Sporting apresentou-se a dois encontros do final com possibilidades de ser Campeão. Mas o Benfica não "colaborou" e tudo foi adiado para a última ronda, em Vidal Pinheiro, frente ao Salgueiros que precisava de ganhar para não descer de divisão.




Para se sagrar campeão, o Sporting tinha de ganhar. O FC Porto jogava em Barcelos, com o Gil Vicente e espreitava uma escorregadela dos Leões. Contaram-se muitas "estórias" de incentivos para lá e incentivos para cá, e os bilhetes, em Vidal Pinheiro, a um preço proibitivo. Certo, certo é que o FCP perdeu, o Sporting deu 4 a 0 ao Salgueiral e... foi o fim do mundo.


Vi o jogo ao pé de José Roquete e lembro-me de termos levado um tempo imenso para chegarmos à cabina onde estavam os heróis da conquista tão esperada. Toda a gente, inclusive os salgueiristas, queria cumprimentar o Presidente Campeão.




Na cabina a festa era feita de água misturada com champanhe, saltos, abraços, lágrimas e loucura total. Depois de participar naquela alegria inebriante, Roquete saiu e foi direitinho para Coimbra, ao café da bica com o mesmo preço desde 1982. E bebeu duas. Uma ao preço antigo e a outra ao novo preço.



 Eu fui direitinho para o estádio onde milhares faziam a festa, aguardando a chegada da equipa. Por lá estavam já as televisões, rádios e tudo o que era Media a quem era preciso fazer o devido acompanhamento. Todos queriam mostrar a grandiosa festa Sportinguista.
A chegada dos heróis acabou por ser retardada por desinteligências dos "generais". Primeiro Estádio ou Câmara? Creio que se dividiu as vontades  pelas duas partes.



No Marquês lá foi o grande Iordanov colocar o gigantesco cachecol ao pescoço do dito. E a noite foi muito longa. Lembro-me de ver muitas bandeiras do Benfica que se juntaram à festa, numa solidariedade Sulista. Afinal o FCP tinha ganho 5 campeonatos seguidos.



Sem facciosismos, não me lembro de ter visto e vivido uma festa assim. Houve quem se interrogasse de onde tinham saído tantos Leões. Outros diziam que a "estória" dos 6 milhões devia estar mal contada.



NOTA FINAL

As vitórias têm um efeito único no Sporting, Benfica, FC Porto ou noutro clube qualquer. Domingo vai haver festa da rija, resta saber se é a do Benfica, ou a do Sporting de Braga. Como diria Eriksson: "Vamos ver."


Carlos Severino