quarta-feira, 7 de julho de 2010

SÍMBOLOS E RIVAIS

SÍMBOLOS E RIVAIS

A propósito desta inesperada e surpreendente transferência de João Moutinho para o Futebol Clube do Porto, vem-me à memória a ida de João Pinto para o Sporting, numa “estória” que foi muito mal contada.


CUSTO ZERO DE 10 MILHÕES

Se alguém conseguiu esse patamar de ser símbolo de um clube, João Pinto foi-o, seguramente, no Benfica. Numa carreira nos encarnados que acompanhei bem de perto enquanto jornalista, João Pinto que esteve para sair para o Sporting apenas com 1 ano de águia ao peito, numa jogada de Sousa Cintra, acabou por continuar na Luz até 2000, já que o Presidente, Jorge de Brito, conseguiu-o convencer a permanecer mesmo depois de o jogador ter encaixado 30 mil contos pagos pelo Sporting.


João Pinto não só continuou a vestir de encarnado, como se transformou na grande referência do Benfica, durante anos a fio, tendo ficado para a história do futebol português, muito em especial, pela exibição e marcação de 3 golos nos célebres 3-6 em Alvalade que garantiu o Título à equipa benfiquista. Até um contrato vitalício fez. Foi a maneira que o Presidente, Manuel Damásio, encontrou para aplacar a ira dos adeptos após sucessivos maus resultados.

Com Vale e Azevedo no comando do Benfica e após o Euro 2000 onde João Pinto marcou aquele que foi considerado o melhor golo da prova e um dos melhores de sempre, o jogador ruma ao Sporting com um anúncio pomposo de “custo zero”, sem que o Benfica recebesse nada!

Vale e Azevedo apontou a situação como benéfica para o Benfica, uma vez que se livrava do contrato vitalício e de um alto vencimento. Enquanto isso, os Sportinguistas exultavam com a vinda do Capitão benfiquista, ainda por cima a “custo zero”, numa operação que envolveu, também, o empresário José Veiga.

Como mais tarde se provou, afinal o “custo zero” foram 10 milhões de euros entre prémio de assinatura e vencimentos, que provocaram investigações e ameaças porque terá havido dinheiro que “voou” não se sabe bem para onde.

Há ainda questões por esclarecer e perguntas a que ninguém responde directamente. Será que Vale e Azevedo, que libertou o jogador do Benfica, recebeu alguma coisa?
Que razões estão por detrás das “estórias” contraditórias contadas por Veiga e dirigentes do Sporting?
Como se explica que os dirigentes falem em “custo zero” quando os clubes acabam por desembolsar milhões que não se percebe bem para onde vão?

NOTA FINAL

No caso Moutinho foi, que me lembre, a primeira vez que um "Grande" vende um símbolo, com 23 anos, Capitão há 5 anos, a um rival. No que respeita a João Pinto, a situação foi ainda mais esquisita uma vez que o Benfica não viu um tostão, embora tenha havido muito dinheiro envolvido. Com João Moutinho o Sporting sempre recebe os tais 11 milhões, embora seja um acto de completa subserviência que enfraquece, ainda mais, o estatuto de um Clube que devia ser líder, não subalterno. E para justificar o injustificável, não havia necessidade de arrasar um jovem valor que foi Capitão e exemplo de entrega ao jogo enquanto atleta do Sporting. 

Carlos Severino