quinta-feira, 1 de julho de 2010

O MUNDIAL DA "PORCARIA"

Portugal soçobrou perante a Espanha no Mundial dos Navegadores. No Mundial de 1994, Portugal treinado, como agora, por Queiroz, não se classificou, mas só perdeu essa hipótese no último jogo, em Itália e por 1-0. Foi um jogo cheio de peripécias, parecido com este com a Espanha, que tive oportunidade de acompanhar in - locco como jornalista da TSF, e que aqui recordo.


JOGO DE TUDO OU NADA DEU "PORCARIA"

No final de 1993 Portugal foi jogar a Itália a possibilidade de ir ao Mundial dos Estados Unidos da América. A Itália não podia perder para se classificar. Portugal tinha de ganhar.

O ambiente que antecedeu o encontro foi de alguma tensão. Eu viajei para Itália como "espião" a representar a Rádio TSF, para contar as "estórias" da Squadra Azurra que fazia o estágio em Covercciano, na bela Florença.

O Estigma do 17

O seleccionador italiano era Arrigo Sacchi, um homem sempre com um sorriso nos lábios a tentar driblar as perguntas apertadas dos jornalistas, em especial os da "casa". Sacchi nunca minimizou a selecção portuguesa que era composta já por um número apreciável de jogadores que haviam sido Campeões do Mundo de Sub-20 em 1991. Mas havia uma questão que era sistematicamente colocado pelos jornalistas italianos, que andava à roda do nº 17! Lembro-me de uma resposta em que aludiu ao facto do nº da sua porta de casa ser o 17. Percebi que andava ali superstição e por isso junto de uma jornalista italiana questionei que "estória" era aquela do 17? Coisa simples, o 17 italiano é o 13 português.

Queiroz e as Influências

Quando a selecção portuguesa chegou a Milão, local do encontro, Queiroz deu uma conferência de Imprensa onde não deixou de alertar para os jogos de influência por força do peso de Itália em relação a Portugal no mundo do futebol.

A Decisão

Com o estádio de S. Siro repleto de "tiffosi" Portugal, com os miúdos, não se atemorizou e jogou olhos nos olhos com os italianos. De tal maneira jogava bem Portugal, que deu para acreditar numa utópica surpresa. Rebate falso. A arbitragem começou a dar razão a Queiroz. Num instante Portugal ficou a jogar com 10 - Fernando Couto foi forçadamente expulso - e lá apareceu o golo salvador que colocou a Squadra no Mundial dos States.

A Revolta de Queiroz

No final do jogo Queiroz disparou em todas as direcções, mas o que gerou mais polémica foi a célebre frase: "...é preciso varrer a porcaria que há na FPF!" Nessa noite cometi a "proeza" de no labirinto de S. Siro encontrar Queiroz e Sacchi em amena cavaqueira, junto às cabinas. Ali os entrevistei, registando a alegria do seleccionador Italiano, aliviado por o 17 não ter sido obstáculo, elogiou a postura da equipa portuguesa lamentando que não se tivesse qualificado, enquanto Queiroz insistiu nas necessárias mudanças na FPF para que o seu estatuto merecesse mais respeito das instâncias do poder no futebol.

Queiroz acabou por sair, tendo ido treinar o Sporting. No entanto deixou as bases, em termos de jogadores, para uma razoável prestação que a Selecção havia de ter no Euro 96, com Oliveira no comando.

NOTA FINAL

A saída prematura do Mundial Sul-africano veio trazer à tona as costumadas polémicas, com muita gente a colocar em causa Carlos Queiroz, Ronaldo e Madaíl. É verdade que não é agradável ver a selecção ficar pelo caminho aos pés de espanhóis. Mas é preciso não esquecer que Espanha é uma super selecção e que Portugal fez o seu 5º Mundial em 19 edições. Em minha opinião, não há razão para mudanças radicais. É preciso fazer ajustes que, certamente, estão a ser ponderados por Queiroz e a sua equipa. Vem já aí o Europeu para se ver resultados que não defraudem as legítimas expectativas de todos nós.

Carlos Severino