Fiz 7 Voltas a Portugal como jornalista, a trabalhar para a TSF. Antes do começo do futebol "a sério", era já um hábito fazer a Volta. Eram 15 dias fantásticos, onde para além do trabalho havia um convívio único entre todos os participantes. As "estórias" são mais que muitas. Por agora conto as peripécias vividas com o vencedor em 1996, Massimiliano Lelli.
LELLI O BRUXO
Em 1996 a Volta teve muitas equipas estrangeiras. Nas 2 edições anteriores, o vencedor tinha sido Orlando Rodrigues, um português a correr pelos espanhóis da Artiach. Orlando não participou na Volta de 96 e Vítor Gamito tornou-se no português com mais potencial para vencer. No entanto, cedo se percebeu que a vitória ia para o italiano da Saeco, Massimiliano Lelli.
Lelli, já tinha obtido um 3º lugar no Giro, vestiu a camisola amarela logo no início da prova. Para além disso ganhava etapas atrás de etapas. Não havia dúvida, era o melhor do pelotão daquela Volta.
Fiz as reportagens de mota, algo que me permitia acompanhar as principais peripécias da corrida e contar, ao pormenor, todas as incidências de interesse para manter os ouvintes informados na hora. Tinha como comentador, em estúdio, o meu amigo Marco Chagas, uma autoridade na matéria pelo percurso como ciclista e já na altura, tal como agora, o mais brilhante comentador da modalidade, com quem dialogava durante as etapas.
Massimiliano Lelli venceu 6 das 12 tiradas da Volta e não ganhou mais por que... não quis!!?? Dito assim parece esquisito, mas a verdade é que o corredor italiano dizia-me antes das etapas se ia ou não vencer!
Houve uma altura que, confesso, comecei até a torcer para que ele falhasse na sua previsão. Isso pareceu-me que ia acontecer na chegada a Lisboa, onde cheguei a convencer-me que ele se tinha enganado nesse dia.
Antes da partida para a etapa que terminava na Capital, perguntei a Lelli se naquele dia ia ganhar. Respondeu-me com toda a tranquilidade: "hoje não, não vou vencer"! Ora isto foi tema da conversa que ia mantendo, no "ar", com Marco Chagas. Nos KM’s finais Lelli tomou o comando da corrida, de tal maneira que cheguei a admitir que daquela vez ele me tinha enganado. Nos metros finais Lelli manteve sempre a dianteira e quando eu já lhe estava a chamar, com um sorriso, é claro, mentiroso eis que se deixa passar por um colega de equipa que era seu cunhado, ficando em segundo!
Lelli foi o grande vencedor da Volta 96. O à vontade com que dominou a prova foi surpreendente e essa "estória" de adivinhar se ia ou não ganhar as etapas é algo que me deixou sempre intrigado, mas que ele acertava, lá isso acertava.
NOTA FINAL
Não sei quando contarei mais "estórias" da Volta, e há tantas e interessantes desde as noites com o saudoso Neves de Sousa até aos meus "desalinhos" com Serafim Ferreira, emblemático Director de corrida infelizmente já falecido, mas não quero deixar de dar conta das saudades que tenho da "malta" da Volta. Não perco uma etapa na RTP com a qualidade da reportagem proporcionada pelos meus queridos amigos Marco Chagas, Pedro Martins e Alexandre Santos. Já andavam no "pelotão" no meu tempo.
Carlos Severino