quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A COMUNICAÇÃO NO SPORTING 2

Sou, porventura, dos poucos jornalistas a ter vivido intensamente os lados de fora e de dentro de um Clube chamado de grande. Essa experiência permite-me fazer um retrato das venturas e desventuras de uma relação em que os protagonistas vão entrando e saindo de cena, a grande velocidade, sem perceberem que, ao contrário deles, os Jornais Desportivos, por exemplo, vão continuar e que sempre serão o melhor ou o pior meio para passar mensagens. Tudo depende da forma como se passam as ditas. E mesmo depois de tantas situações paradigmáticas, é estranho que haja quem insista em ameaças veladas que conduzem ao ridículo e em vez de gerarem respeito geram revanche e fragilização que, normalmente, só podem ser "combatidos" com bons resultados. E quando não há bons resultados, é o que se vê e o que se lê.

JOZIC E O DITO POR NÃO DITO

"Estória" de uma má comunicação

Mirko Jozic foi treinador em Alvalade na época de 98/99. Era um técnico com bastante experiência, nomeadamente pela vivência que teve na América do Sul, com muito traquejo a lidar com a comunicação social. Apesar de ter posto o Sporting a jogar o melhor futebol do campeonato, os resultados não foram os melhores muito por culpa de arbitragens contrárias à verdade desportiva e que muito prejudicaram os leões.

Com a pressão da comunicação social a fazer-se sentir, Jozic, um sisudo por natureza, conseguia sempre responder a todas as perguntas com um ligeiro sorriso. Um dia, farto de ser massacrado com as questões sobre os resultados menos bons, resolveu pedir aos dirigentes leoninos para se fazer um corte com os jornalistas!

Os dirigentes quiseram satisfazer o pedido de Jozic e chamaram-me para transmitir que a solicitação do treinador a Sala de Imprensa não ia abrir por uns tempos. Espantado com a situação, sempre fui dizendo que era um disparate fechar o espaço destinado aos profissionais da comunicação já que isso, seguramente, se virava contra o Clube. Mas a insistência foi tal que, mesmo não concordando, tive de cumprir a ordem do meu "patrão". Tentei explicar o inexplicável aos jornalistas presentes que não paravam de perguntar por que não estava aberta a Sala de Imprensa, acabando eu por confessar que se tratava de uma decisão do míster que não queria falar.


Mal terminou o treino ainda no antigo relvado ao lado do velhinho Alvalade, Jozic tinha de atravessar a rua,  foi ver os jornalistas em cima do técnico, perguntando a razão por que não queria falar. Jozic, com o habitual meio sorriso sempre, foi dizendo que não sabia de nada e que iria à sala de imprensa sem problemas!


Os jornalistas vieram ter comigo indignados, acusando-me de lhes estar a mentir! Não perdi tempo e contactei rapidamente o dirigente na altura responsável pela SAD, dizendo-lhe que não contavam comigo para aqueles números de circo. O dirigente confrontou, de imediato, Jozic com a situação e o que é certo é que o míster acabou por não ir à sala de imprensa, mas não deixou de criar mais um caso.

CONCLUSÃO

A comunicação foi gerida um pouco ao sabor de impulsos mal medidos, não sendo levado em conta quem percebia do assunto. O resultado foi uma imagem de desorganização que prejudicou o Clube e mostrou fragilidades e falta de coesão logo aproveitadas para tornar públicos os desnortes de uma organização muito desorganizada. E quando assim é não há comunicação que resista, mesmo com profissionais da área capazes de fazer um bom trabalho.

Esta "estória" é uma de tantas por mim vividas, que reflecte erros de quem tem poder e que se continuam a cometer por teimosia, arrogância, pretensiosismo, afronta e desprezo completo para com o 4º poder que afinal é, muitas vezes, o primeiro. Quem não tem a noção disso corre riscos que podem ser fatais. Foi o caso de Nixon, ex. Presidente dos EUA, por exemplo.

Carlos Severino