terça-feira, 12 de outubro de 2010

SPORTING - IR À "GUERRA"

Teve lugar na Liga um encontro de Presidentes dos clubes da 1ª e 2ª Ligas. A propósito de tal meeting e de José Bettencourt dizer que o Sporting não se mete em certas "guerras", veio-me à memória o mesmo encontro realizado mas por proposta de Dias da Cunha, o então Presidente do Sporting, em 2001/02. Nesse tempo não houve medo de ir à "guerra". E os resultados para o Sporting foram óptimos.

A ESTRATÉGIA

Dias da Cunha, mal chegou à presidência do Sporting, cedo percebeu que era preciso que o Clube se assumisse como líder na definição de estratégias conducentes à regulação de uma indústria e de um negócio que estava nas mãos de um poder oculto, que dominava tirando a parte de leão dos respectivos benefícios financeiros e desportivos.

A estratégia foi amadurecendo com o sentimento de que era necessário envolver toda a gente e em especial Pinto da Costa, um Presidente ganhador a quem os outros potenciais protagonistas teriam dificuldade em dizer que não.

Mesmo sabendo que nos bastidores do futebol se atribuía a PC a paternidade do chamado SISTEMA, Dias da Cunha não hesitou em avançar para o líder dos dragões. Para DC, Pinto da Costa já tinha ganho tanta coisa que, para que lhe fosse retirada a imagem que todos falavam à boca pequena, era capaz de aceitar, para limpar esse estigma, dar um forte contributo para que o futebol fosse transparente no plano económico/financeiro e desportivo.

O ALIADO FRANKENSTEIN

Determinado, Dias da Cunha, que pensava grande para o Sporting, num almoço de boas-vindas ao FCP, no velhinho José Alvalade, perante cerca de duas dezenas de pessoas, entre as quais eu, levantou-se e, olhos nos olhos, disse a Pinto da Costa que não conotava o FC Porto com o Sistema e que achava que o dito era um Frankenstein que tinha fugido ao criador e por isso ali lhe lançou o desafio para ajudar a relançar o futebol indígena. Pinto da Costa ruborizou, mas respondeu que nos anos 80, ainda sem Liga, os Presidentes dos clubes reuniam-se para abertamente falarem dos problemas do futebol. Adiantou, ainda, que via com bons olhos o ressurgir desses encontros e que estaria na linha da frente para que isso acontecesse.

Dias da Cunha venceu o primeiro round. O  encontro inicial, só com clubes da 1ª Divisão, realizou-se em Alvalade e ninguém faltou. Seguiram-se Antas e Luz aí já com os clubes da 2ª Liga. Quando tudo parecia caminhar para o sucesso, Benfica e Boavista demarcaram-se, alegando incompatibilidades inultrapassáveis e tudo acabou por borregar, aliás como havia muita gente a vaticinar.

Apesar do inêxito da acção, para o futebol português, o Sporting assumiu uma posição de relevo, arrastando consigo os outros clubes numa assumpção clara de liderança. Nessa mesma época, os Leões venceram o Campeonato, a Taça de Portugal e a Super-Taça. Curiosamente, a SAD leonina era presidida por Miguel Ribeiro Teles e o administrador delegado era... José Bettencourt!

NOTA FINAL

Apesar de quer Teles, quer Bettencourt nunca se terem exposto na "guerra" contra o Sistema, o Sporting foi à "guerra" e venceu as batalhas daquela época já distante. Dias da Cunha fez as despesas da casa, indo à "guerra". Como se diz: para se ganhar a "guerra" é preciso entrar nela. Quem diz que não entra, mas que vende "artelharia" da qualidade de Moutinho a um "inimigo de interesses" e dá 6,5 M por um perna de pau não pode mesmo entrar nem na "guerra", nem em nada que não seja a subjugação a um preço muito elevado.

Dias da Cunha haveria de pagar caro a ousadia de ir à "guerra". O "Sistema", com gente de dentro, encarregou-se de o afastar e estragar uma época, 2005, que ficou conhecida pela temporada do "quase". Quem perdeu foi o Sporting, que se tornou num clube que ninguém respeita e completamente subalterno aos interesses de quem controla.

Carlos Severino