terça-feira, 9 de março de 2010

SPORTING, O PRIMEIRO A TER TV

A notícia publicada em A Bola de que a Sporting TV vem a caminho, fez-me recordar um projecto em que me envolvi até ao tutano, que dava pelo nome de "CANAL SPORTING", tendo durado quase 1 ano. Não prosseguiu pelos custos que envolvia a sua produção e por não ter havido retorno publicitário que os suportasse.


CANAL SPORTING

"Meus caros amigos, temos a caminho um espaço televisivo do Sporting, que brevemente estará no ar. Mais uma vez somos pioneiros." Foi com estas palavras que, em Novembro de 1998, José Roquete, então presidente do Sporting, se dirigiu à imensa plateia que compunha mais um Jantar Verde, na Batalha, organizado pelo Núcleo Sportinguista de Leiria.

Em Dezembro lá foi para o ar o primeiro programa do Canal Sporting. Tinha uma hora de duração e aparecia na Sport-Tv às quintas - feiras, à noite. Era um espaço dedicado à actualidade Sportinguista, com os resumos dos jogos de todas as modalidades, mas com grande enfoque nos encontros da equipa principal de futebol. As memórias e o juntar um atleta com uma figura artística sportinguista eram, também, momentos sempre agradáveis que preenchiam o programa.

Eu estava intimamente ligado ao Canal Sporting, sendo seu editor e participante em diversas "peças" - designação de trabalhos em televisão ou rádio - sem que isso significasse qualquer remuneração para além da que recebia como assessor de imprensa, na altura da SAD. Da equipa faziam também parte Sportinguistas bem conhecidos como: Fernando Correia, António Macedo, José Goulão, Maurício do Vale e Rui Oliveira e Costa. Todas as terças - feiras lá me deslocava até aos estúdios do produtor João Barba, a Duvideo, para editar o programa, num trabalho que durava até às tantas já de quarta - feira.

MATÉRIA NÃO FALTAVA

Os conteúdos eram tantos que davam para fazer 2 ou 3 horas de programa. Não era fácil a escolha e os "cortes" que eram precisos fazer. A colaboração da equipa do Jornal do Sporting, que também não recebia mais por isso, foi fundamental. Faziam-se acompanhar por câmaras-men nas suas deslocações aos diversos locais onde havia acontecimentos com a participação do Sporting, elaboravam os textos e faziam as respectivas "peças".

AS "CRÍTICAS" DE RUI COSTA

Eu, também, fazia os resumos dos jogos da equipa principal. Lembro-me de um dia me cruzar com o Rui Costa, actual DD do Benfica, na altura jogava na Fiorentina, que se me dirigiu dizendo que eu era muito parcial nas minhas narrações. A sorrir, disse-lhe que aquilo se chamava "Canal Sporting" e que eu era colaborador do meu clube e não de outro.


OS ARTISTAS SPORTINGUISTAS

Nos cerca de 25 programas participaram muitos artistas assumidamente Sportinguistas. O primeiro foi o Miguel Ângelo dos "Delfins". A "parceria" no sketch foi feita com o Delfim então a jogar de leão ao peito. Foi lindo pôr os dois a cantar junto à baliza sul: "quando alguém nasce, nasce selvagem..." Recordo-me, ainda, do sketch que propus à Maria Vieira e ao João Barnabé. Ela fazia de Presidente, ele de treinador! Foi difícil gravar a rábula porque com a graça que a Maria Vieira punha no diálogo nenhum dos presentes, câmara-men, eu e o Barnabé, conseguia parar de rir. E o Nelson (guarda - redes) a fazer de "Menino Tonecas" e o Luís Aleluia no papel de "Professor"! E a Simone a entrevistar o "Grande" Vítor Damas no centro do relvado! Foram momentos inesquecíveis que estão registados nas cassetes dos programas, que espero terem sido aproveitadas pelo Mário Casquilho para o Museu do Sporting.

OS CRAQUES

Em todos os programas fazia uma entrevista a um jogador do plantel da altura. Houve duas que me marcaram pessoalmente. A primeira foi com o Simão que em determinado momento me contava, com lágrimas nos olhos, como tinha sido duro ter aos 13 anos deixado Sabrosa (Vila Real) para trás, ficando sem o carinho e amparo da sua família, especialmente da mãe. Mas o apelo do Sporting acabou por superar tudo. A outra foi ao Nuno Valente que, também com lágrima no canto do olho, dizia com a voz embargada, quando tudo apontava para a sua dispensa, que era Sportinguista e muito gostaria de continuar no Sporting. Efectivamente foi dispensado para o U. de Leiria, mas no ano a seguir estava no FC Porto onde ganhou tudo tendo voltado à Selecção Nacional para ser titularíssimo durante alguns anos.

O FIM

O Canal Sporting acabou. Não havia verba que cobrisse os custos de produção que rondavam os 5 mil contos (25 mil euros). No entanto, deixa o registo interessante de ter sido a primeira aventura de um clube português nos caminhos da TV. E eu sinto muito orgulho em ter estado ligado à implementação daquele  projecto.

Carlos Severino