quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MORTE NO ESTÁDIO - A NOTÍCIA MAIS DIFÍCIL



O Benfica foi goleado pelo FC Porto. O resultado de 5-0 é igual ao que aconteceu em 18 de Setembro de 1996. O encontro foi a 2ª mão da Supertaça, Cândido de Oliveira, e teve lugar no antigo Estádio da Luz. Mas o facto mais relevante dessa noite, também por mim vivida in-loco, foi a morte do grande fotojornalista, meu amigo, Nuno Ferrari.


O JOGO E A VIDA

Com António Oliveira como treinador, o FC Porto apresentou-se no velho Estádio da Luz para disputar a 2ª mão da Supertaça. Na 1ª mão o Porto havia vencido nas Antas, por 1-0, golo de Domingos.

Como repórter da TSF lá me apresentei para fazer mais um jogo que, estava longe de imaginar, iria marcar-me para sempre mas como a noite em que tive de dar, em primeira mão, a notícia que gostava de nunca ter dado.

Antes do encontro se iniciar, junto ao relvado, fui falando com companheiros diversos da TV, Rádio e Fotojornalistas. Um deles foi, precisamente, Nuno Ferrari que lá estava carregado com o seu precioso material, apesar dos seus 60 anos. Conhecia pessoalmente o Nuno há uns anos e sabia das suas preferências clubistas que em nada beliscavam o seu profissionalismo. Mas meti-me com ele e o seu sorriso simpático, dizendo-lhe que achava que no final do encontro não ia sorrir por causa do resultado!

O jogo começou e apesar de na baliza do Benfica estar Preud´Home, o Benfica acabou goleado por 5-0.
Ao intervalo já não vi o Nuno Ferrari. Disseram-me que ele se tinha sentido mal e tinha saído. No final da partida as notícias eram confusas. Apontava-se para o pior, mas ninguém confirmava. Falei então com um clínico do Benfica que viu o Nuno antes dele seguir para o hospital, que me garantiu que tinha chegado a sua Hora!

Perante uma situação que nunca se me tinha deparado, e perante o choque do momento, a verdade é que eu tinha uma notícia para dar, dolorosa, e que não gostava de ter dado. Quase em estado de choque, anunciei a morte de um grande Homem da comunicação, um respeitado companheiro com quem convivi de perto, junto aos relvados, em muitos jogos de futebol. Foi, sem dúvida, a notícia mais difícil de dar em toda a minha carreira.

Nos momentos vividos com o Nuno Ferrari recordo um particularmente curioso, que define um grande profissional e amigo. Em Maio de 91 o Benfica sagrou-se Campeão, na Madeira, frente ao Marítimo. No final da partida corri em direcção a Eriksson, então treinador dos encarnados, para ouvir as suas primeiras palavras. Quando já estava bem posicionado entre um magote de repórteres, senti um forte puxão num dos braços. No meu desejo de manter a minha privilegiada posição, afastei, com um pesão, quem me estava a puxar. Pois é, quando me virei é que percebi que tinha atirado ao relvado o bom do Ferrari. Eu nem sabia onde me havia de meter e o que dizer. Pedi-lhe todas as desculpas deste mundo. O Nuno Ferrari, com um sorriso, apenas me disse que não tinha importância e que compreendia que tal como ele queria apanhar os melhores "bonecos" eu quereria ouvir as primeiras palavras.



De facto o Futebol é um jogo com vida, mas não é o jogo da Vida.





Até sempre companheiro.

Carlos Severino