Há dias ouvi Carlos Carvalhal a falar de Artur Jorge, referindo o episódio em que o então técnico do Benfica disse que gostaria de ver a sua equipa a jogar à Porto. O "culpado" fui eu.
ENTREVISTA NO ESTÁDIO DA LUZ
Foi na época 94/95. O Benfica estava na Liga do Campeões e ia jogar a Milão. Um colega, da redacção da TSF-Porto, pediu-me que entrevistasse o Artur Jorge para que o técnico fizesse uma apreciação sobre o bom momento do FC Porto, treinado por Boby Robson. Isto porque estava a fazer um trabalho com ex. treinadores dos dragões.
Estava-se num domingo, e após o treino foram divulgados os convocados para Milão. Na sala de imprensa da antiga Catedral, após a conferência de imprensa a anteceder o jogo com o Milan, pedi a Artur Jorge para me dar uma pequena entrevista sobre um assunto que nada tinha a ver com o jogo da Champions.
BENFICA A JOGAR À PORTO
Antes de começar a gravar a entrevista, enquadrei A. Jorge com o que pretendia, longe de imaginar a resposta que marcaria um momento que ainda hoje é relembrado. Tudo por que, a determinada altura na apreciação ao FC Porto, o então treinador encarnado disse: " trata-se de uma equipa que joga em ataque continuado, sendo um autêntico harmónio que não nos deixa perceber se está a atacar ou defender". A pergunta que se impunha foi feita: " é assim que quer pôr o Benfica a jogar?". A resposta foi clara: "claro que é assim que pretendo que o Benfica jogue e estamos a trabalhar para isso". Na essência foi este o diálogo entre mim e Artur Jorge, mas que só foi para o ar uns dias depois.
JOGO EM MILÃO
O Benfica viajou no dia seguinte para Milão e eu fui no mesmo avião que a comitiva encarnada, em representação da TSF.
Entendi que não devia divulgar aquelas declarações antes de um importante jogo como aquele com o Milan, até porque sabia as afirmações de Artur Jorge iriam causar grande polémica, e decidi torná-las públicas apenas após o encontro em Milão.
A BOMBA REBENTOU
O jogo foi a uma quarta-feira, o Benfica perdeu por 2-0, e a "bomba" apenas surgiu na sexta-feira, na antena da TSF, nos noticiários, a partir das 7 da manhã, apresentados por Sena Santos.
Lembro-me bem desse dia já que a notícia se tornou, rapidamente, num acontecimento Nacional.
Confesso, ao aperceber-me do impacto que a notícia teve, que fiquei com o estranho sentimento, não de culpa porque afinal Artur Jorge disse o que disse, de um poder que pode ser perigoso e mexer com a vida das pessoas, como foi o caso. Os adeptos não perdoaram e Artur Jorge não ficou muito mais tempo na Luz, uma vez que os resultados também não ajudaram.
NOTA FINAL
Os Media são, de facto, um poder que ninguém pode subestimar. A Comunicação Social pode ser o melhor meio para passar as mensagens, ou o pior. Tudo depende de como se passa aquilo que se pretende transmitir. No futebol assiste-se, muitas vezes, a autênticos tiros nos pés.
Carlos Severino