terça-feira, 26 de janeiro de 2010

BENFICA/SPORTING, AS TEIAS DA RIVALIDADE

É impossível. A rivalidade entre águias e leões não permite que haja racionalidade nas relações entre ambos e disso se aproveita o FCP com os dividendos que se conhecem.

A "estória" que vou passar a contar demonstra, claramente, que acima dos interesses dos dois clubes está essa turva visão que os atira para guerras intestinas que lhes retiram muito do potencial que têm sem perceberem como acabam sempre por ficar em 2º plano.

A minha colaboração com o Sporting Clube de Portugal, o meu clube de sempre, não se resumiu aquilo que transpareceu, área da comunicação, mas nunca tirei dividendos disso nem esse era o meu objectivo. Como Sportinguista atento, sempre me motivou empenhar-me em, enquanto colaborador, ajudar o Sporting a voltar a ser campeão e ter o estatuto de um clube líder e não subalterno.

Pela minha vivência como jornalista, conhecia bem os bastidores do mundo da bola e assisti, muitas vezes, ao desdém dos adversários acerca do Sporting e de quem o dirigia. Confesso que ficava incomodado, mas nada podia fazer.

Como colaborador, tive a sorte de ter em Dias da Cunha um Presidente que, apesar de não ser um homem do futebol, teve a humildade de querer conhecer como tudo funcionava, ouvindo e sabendo ouvir e interpretar o que lhe era mostrado. E não havia nada só por "31 de boca." Dias da Cunha exigia sempre provas daquilo que lhe era dito e só falava com a certeza de que podia dizer o que dizia.

Foi no contexto acima descrito que o presidente leonino começou a falar do famigerado SISTEMA e a fazer um combate, internamente solitário, que acabou por lhe custar a saída pela porta pequena, proporcionada por um conjunto de situações e pessoas muito mais do lado de dentro do que do lado de fora.

No início da época 2001/02 Dias da Cunha desenvolveu uma série de acções para, em nome do Sporting, tentar regenerar o futebol português.

Um dos episódios foi um célebre almoço, no restaurante PAB, em Lisboa, com o então Presidente do Benfica, Manuel Vilarinho. Nesse encontro estavam também eu e João Malheiro. A conversa versou muito mais o lado das vantagens financeiras resultantes de iniciativas que envolvessem as duas equipas principais - um exemplo seria a realização de 2 jogos de abertura de época, 1 em cada estádio - e que daí resultasse uma mais-valia para ambos, do que atacar este ou aquele. Falou-se da regulação do futebol e da envolvência de todos os interessados na regeneração do futebol de modo a conferir-lhe a credibilidade necessária para o aumento das receitas. Falou-se de arbitragem e da necessidade de criar um modelo que rompesse com a permanente suspeição e por aí fora.

Apesar de ter conhecimento da realidade, não deixei de sentir que aquele encontro podia ser o princípio de um tempo novo, um marco na história do futebol nacional. Foi rebate falso. Por pressões externas e internas na Luz e em Alvalade aquele encontro ficou-se apenas pelas intenções. Rapidamente declarações de gente ligada a um lado e outro, alegando a eterna rivalidade desportiva e não só, tornou um acontecimento que podia ser histórico em algo de horrível e impensável. E assim morreu.

Outros episódios houve, que serão contados a seu tempo.

Carlos Severino