quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SÁ PINTO NEM ANJO, NEM DIABO



Conheço Sá Pinto há muitos anos. Lamento a sua saída do Sporting, mas reconheço que não podia haver outro cenário. No entanto, é sempre fácil acusar e carregar em quem está por baixo sem muitas vezes haver o cuidado de se perceber a razão de determinados comportamentos, mesmo os condenáveis.



Estive, involuntariamente, ligado ao famígerado caso do Sá Pinto com o então seleccionador nacional, Artur Jorge, e é essa "estória" que vou contar.



Em Março de 1997, a Selecção ia jogar com a Irlanda do Norte para a fase de apuramento para o Mundial França 98. Artur Jorge fez a convocatória e, estranhamente, não convocou Sá Pinto que estava em grande forma num Sporting, treinado por Octávio Machado, a "morder os calcanhares" ao FC Porto.



Depois de olhar para o papel com os nomes escolhidos, fiquei muito intrigado por nele não constar o nome de Sá Pinto. Curioso, perguntei a Carlos Godinho, já na altura director desportivo da FPF para a Selecção, se o jogador estava a cumprir algum castigo. Godinho limitou-se a dizer que não, o que aguçou ainda mais a minha curiosidade pela não convocação de um atleta em grande forma e com características apropriadas para um jogo disputado no Norte da Europa, no final do Inverno.



Após alguns dias de perguntas a alguns responsáveis sem conseguir respostas com alguma lógica, lá obtive uma versão que não me convenceu, mas era uma explicação para Sá Pinto ficar arredado de uma partida que acabou por ajudar à não ida a França. Empatámos  O-O.



Ora, a explicação para a situação foi-me dada por uma fonte próxima de Artur Jorge. Disse-me a fonte, que Sá Pinto tinha tido problemas com colegas em estágios realizados na Grécia e em Braga que antecederam dois encontros em que o jogador participou.




A versão obtida por mim foi confirmada pelo, também, jornalista, na altura do Record, João Cartaxana. Após cruzar-mos a informação decidimos publicá-la. Eu na TSF, a partir das 2 da manhã do dia seguinte, para não haver aproveitamentos, e o João no seu jornal que estaria nas bancas umas horas depois.



Logo pela manhã Sá Pinto, que ia a caminho de Alvalade para se juntar à comitiva que se ia deslocar a Marrocos para jogar com o WAC de Casablanca, por causa da transferência de Saber, ouviu a notícia na TSF, leu o Record e não deve ter ficado nada agradado. Depois foi o que se sabe. A novela durou bastante e Sá Pinto saiu altamente lesado da situação assim como o Sporting que não só perdeu o jogador como perdeu o título para o Porto.



Confesso que me deu uma grande satisfação dar as boas vindas, já como colaborador do Sporting, no regresso de Sá Pinto a Alvalade, onde, por desavenças com Paulo Bento, não acabaria a carreira de jogador.



Sá Pinto é, sem dúvida, um LEÃO com raça. Lamento o que sucedeu agora a alguém que já tinha tido uma grande provação, fruto de uma reacção intempestiva a uma injustiça que ele não conseguiu encaixar.



Agora é tempo de reflexão. Espero que Sá Pinto volte a ter mais uma oportunidade.



Carlos Severino